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Artigo semanal, segunda feira, 23 de julho 2012

Feitiços e ritos secretos

Toda violência choca, mas o assassinato de crianças inocentes como, há poucos dias, ocorreu no interior de Pernambuco, quando um menino de nove anos foi assassinado, provoca uma justa revolta na sociedade. Ao procurar o que está por trás disso, uma das suspeitas comuns é a de sacrifícios satânicos e rituais de religiões negras. Sacerdotes de cultos afro são perseguidos. Na semana passada, em Brejo da Madre Deus, incendiaram sedes dessas comunidades. Sempre na história, preconceitos se voltaram contra minorias pobres e desarmadas. Na Idade Média, diante de qualquer tragédia ou epidemia, mulheres eram acusadas de bruxarias e queimadas. Hoje, no Brasil, as vítimas mais frequentes do preconceito são os cultos afrodescendentes. Há mais de 20 anos, como teólogo e padre, frequento cultos afro-descendentes. Sou amigo de pais e mães de santo. Aprendi que nenhuma religião de origem afro tem rituais violentos, ou aceitam sacrifícios humanos. Essas tradições espirituais não creem em um espírito do mal que a tradição judaica e cristã chamou de demônio. Nunca lhe prestariam culto. Nos tempos da escravidão, se um escravo conseguia ameaçar com um despacho a um senhor que quisesse abusar de sua filha menor e esse senhor, com medo do despacho, desistisse do mal que ia fazer, esse ritual era bom. Era a única arma que restava ao escravo para se defender. Por isso, esses despachos de Vodu (não de Candomblé) eram justos. Hoje, Mãe Stella de Oxossi, yalorixá do Opô Afonjá, em Salvador, ensina: “Uma pessoa que quer fazer mal a outra corre o risco desse mal se voltar contra si mesma”. Religiões negras têm segredos, como no Cristianismo primitivo, os sacramentos eram chamados de mistérios. Diante de crimes como esse, devemos nos revoltar sim e condenar tal violência. Mas, não confundir distúrbios mentais com expressões religiosas. Todas as religiões têm suas ambiguidades. Religiões que ainda têm uma visão sacrificial aceitam certa violência como se Deus gostasse de sangue e de sofrimento. Entretanto, não é justo discriminar e condenar as religiões afro por um tipo de prática que elas não têm. 

Quem é espiritual defende a vida de todos, principalmente de crianças inocentes. E luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Deus é amor. Só pode ser encontrado, quando nos relacionamos amorosamente. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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