Blog Aqui vamos conversar, refletir e de certa forma conviver.

Comentário de filme, quinta feira, 11 de setembro 2014

Fui ver o novo filme de Woody Allen: "Magia ao Luar". Tinha lido a crítica de que era uma repetição de outros e que nada havia de original. De fato, em pelo menos dois filmes recentes: "O escorpião de Jade" e "Scoop: o grande furo", Allen trabalha com esse tema do mágico e da magia. Mas, me parece injusto acusá-lo de repetição. O filme tem sim sua originalidade. Antes de tudo, como experiência fílmica é muito bem feito. Uma aula de verdadeiro cinema. Muito bem dirigido. A reconstituição de época (Alemanha e sul da França no final da década de 20) é perfeita. Os atores estão impecáveis. E a história é simpática e nos prende do começo ao final, sem ser apenas uma historinha para uma sessão da tarde da Globo. E há um assunto que não deixa de ser sério. O filme não é apenas sobre a magia do ilusionismo. As sínteses do filme apresentadas pela imprensa afirmam: "um falso mágico (Colin Firth)..." Mas, existe um mágico que não seja falso? O que é ser mágico? Não é saber iludir o seu público? O problema é que o filme mostra o confronto entre um mágico (ilusionista) e uma vidente que diz ter visões sobrenaturais e comunicação com o mundo dos mortos, além de uma capacidade de percepção extra-sensorial. E aí o fato é que ela também é uma embusteira. E depois que o mágico e nós, espectadores também, passamos o filme inteiro acreditando que ela está vendo ou percebendo as coisas, descobrimos que era tudo mentira e embuste. Isso significa (no filme) que o mágico é quem tinha razão: a vida não tem sentido além do trabalhar, ganhar dinheiro e pronto. O espiritualismo é uma bobagem, Deus não existe e a única verdade humana é a concorrência. Apesar de que não sou espírita e não acredito em muita coisa que se apresenta como espiritualismo, acho arrogante e primário simplesmente desqualificar todas as pessoas que têm experiências extra-sensoriais. Penso que o roteiro do filme poderia ter deixado isso em aberto, mesmo se mostrasse que no caso daquela moça era um embuste. Achei isso a grande falha do filme. Nada atrapalharia se, no final, ao reconhecer que era tudo um plano para enganar o mágico, a moça encontrasse ou soubesse de alguém que, de fato, lida com essas coisas... Afinal, a vida tem mais mistérios do que cabe em nossa cabeça. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

Informações