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Conversa, domingo, 08 de julho 2012

Queridos irmãos e irmãs, 

Encerrei o retiro com o grupo de Vitória. Eram umas 30 pessoas, pertencentes a quatro grupos diversos: o número maior pertencia à Comunidade Ambiental, um grupo de casais e gente madura que se reúne para partilhar a vida, aprofundar temas e celebrar de quinze em quinze dias. Outros pertencem à fraternidade leiga dos irmãozinhos de Jesus (do padre Foulcaut), outros ao movimento fé e política e outras/os ainda ao CEBI (centro ecumênico de estudos bíblicos). Talvez o mais importante foi aprofundar uma espiritualidade que consiste em aprimorar a amorosidade humana. Ontem ouvimos, cantamos juntos e discutimos uma música do Chico Buarque e Cristóvão Bastos, que parece inspirada no livro bíblico do Cântico dos Cânticos. Nós a escutamos na voz de Verônica Rodrigues, cantora negra baiana (que voz e que técnica de canto). A letra parece descrever as diversas fases do amor e como o amadurecimento da capacidade de amar leva a uma descentração de si e uma abertura diferente ao outro. A canção se chama "Todo o sentimento" e diz assim:

"Preciso não dormir, até se consumar, o tempo da gente. 

Preciso conduzir um tempo de te amar, te amando,

devagar e urgentemente. 


Preciso descobrir, no último momento, 

um tempo que refaz o que desfez

que recolhe todo sentimento e bota no corpo uma outra vez. 


Prometo te querer, até o amor cair doente, doente...

Prefiro, então, partir, a tempo de poder, 

a gente se desvencilhar da gente. 


Depois de te perder, te encontro com certeza, 

talvez, num tempo da delicadeza, 

onde não diremos nada, nada aconteceu. 

Apenas seguirei, como encantado, ao lado teu". 

A cação começa pela opção do ficar despertado/a e na espera da consumação do tempo. Um tempo do amor. Tempo de refazer o que se desfez e que supõe um despojamento - a gente se desvencilhar da gente. E então haverá o reencontro, a ressurreição em um tempo da delicadeza - no qual o amor que caiu se levanta de outro modo e aí mesmo sem dizer mais nada apenas a pessoa segue ao lado do outro/ da outra como encantado, como pessoa transfigurada, ou transformada. 

Em todas as tradições espirituais, esse itinerário humano e de amadurecimento do amor é sinal e sacramento da intimidade divina. 

Como o tema desse retiro era viver a espiritualidade do deserto, fora das estruturas, essa capacidade de amar se torna ainda mais urgente e importante. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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