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Conversa, quarta feira, 02 de maio 2012

Compromisso e beleza

Ontem à noite, me soltei na tal "festa das lavadeiras" no Marco Zero do Recife antigo. De fato, vi poucas lavadeiras. Havia muita gente jovem e muitos intelectuais e principalmente uma grande multidão (não sei calcular, mas talvez perto de mil pessoas) de Candomblé, Umbanda e Jurema, uma expressão religiosa que funde elementos de religiões afro descendentes com tradições indígenas daqui do Nordeste. É um culto da árvore sagrada da Jurema. Muito bonito o pouco que vi e conheço. E ontem, os cantores e cantoras de Pernambuco todos chegaram no palco vestidos como filhos ou filhas de santo e cantaram invocações aos Orixás. Era uma coisa meio na base do carnaval, mas principalmente de culto e de adoração. Para mim, padre, uma lição de que a oração não precisa ser sisuda nem séria demais. Era uma recreação com o Espírito Santo manifestado nos Orixás. Uma beleza. E quando, então, entrou Virgínia Rodriguez com aquela presença negra da Bahia e aquela voz de Milton em tom e toque de mulher, meu Deus que maravilha. E que repertório... Alguns afro-sambas: Canto de Xangô, de Ossanha, algumas canções imortalizadas por Clara Nunes.. "O sol há de brilhar..." (Penso que a música se chama Juizo final). Mas, quem mais esteve presente nas melodias foi mesmo o velho Vinícius... e sua genialidade. Saí de lá meio levitando, nem parecia que fiquei tantas horas em pé... Hoje, acabo de voltar da primeira noite da semana do trabalhador promovida pelo MTC (Movimento de Trabalhadores Cristãos) sobre Saúde pública e Controle social. Uma reunião densa e profunda, mas justamente era um grupo ainda pequeno (15 pessoas) e faltou esse elemento da arte e da beleza. Não digo isso para criticar, porque nem era a proposta de um encontro de formação, mas como chamar a juventude para um sentido mais crítico e como voltar às ruas para protestar contra a privatização dos serviços de saúde praticada pelos governantes que assim desrespeitam a Constituição brasileira de 1988 que garante: a saúde é direito de todos e é obrigação do Estado proporcionar a todo o povo. E não é favor. A tal parceria público privada que terceiriza os serviços é imoral e anti-constitucional e tem de ser denunciada e combatida. Só gostaria que esse tipo de reflexão encontrasse a forma de fazer isso com beleza e de forma que tocasse na juventude. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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