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Conversa, quarta feira, 15 de agosto 2012

Queridos irmãos e irmãs, 

Cheguei em Assunção, ontem, pelas cinco da tarde do Brasil (aqui é uma hora mais cedo). Marcial Congo, secretário particular do presidente Lugo estava me esperando na saída do avião e me ajudou nos trâmites burocráticos de passaporte, alfândega, etc. Saímos do aeroporto diretamente a uma praça da cidade onde o presidente me esperava. Recebeu-me como se eu fosse alguém importante. Muito agradecido porque eu vim para esse ato em apoio a ele. Como muita gente o cumprimentava e queria abraçá-lo, ele me apresentou às pessoas: "ese es el compañero internacionalista Marcelo Barros, teólogo brasileño y amigo nuestro". E eu respondi: Não sou ninguém. Sou apenas um pobre monge que procura inserir-se na realidade social e testemunhar por onde vou que existe um amor solidário e revolucionário e esse amor é divino. 

O presidente Lugo queria que eu o acompanhasse no lançamento de um livro de Dr. Domingos Laino, um intelectual que foi deputado federal e em outro momento candidato a presidente da República. Ele lançava um livro sobre os índios do Paraguai no qual os compara com os índios de Chiapas do México. O presidente Lugo falou e me convidou para falar não sobre o livro (que eu não conhecia), mas sobre o fato de tanta gente ali estar interessada na vida e na cultura do povo guarani. Hoje terei pela manhã, o presidente quer uma conversa comigo, depois participo de uma mesa redonda sobre os movimentos sociais na América Latina e à tarde participo de uma marcha social em solidariedade ao novo processo social e político em defesa dos indios e lavradores e contra o golpe dos fazendeiros e industriais que expulsou Lugo do governo. Na breve conversa que tivemos, uma coisa que lhe disse foi que me impressionou o fato do povo não ter se mobilizado para defender seu governo quando houve o golpe no dia 22 de junho. Ele me respondeu: "Aqui somos um país ainda muito rural e a maioria dos movimentos sociais está no campo. Eles quiseram vir, mas os donos de empresas de transporte retiraram os ônibus de circulação (o pretexto foi que tinham medo de depredação dos veículos). O país parou. Ninguém podia viajar de ônibus. Em alguns lugares, nem postos de gasolina funcionava. E começaram a espalhar um boato: os mesmos matadores de elite que tinham atirado nos lavradores e policiais em Uruguati poucos dias antes estariam na capital e prontos a atirar no povo se houvesse manifestações. Quando eu soube disso, pedi que não houvesse nenhuma manifestação. Não podia correr o risco de um banho de sangue, como ocorreu no golpe de estado em 1999. Os golpistas prepararam tudo em segredo e estavam dispostos a matar para ficar no poder". 

Vi na capa do livro de Domingos Laino a citação de um índio do tempo da conquista: "Os brancos matam, mas um dia, eles também morrerão. Eles vencem, mas não para sempre. Destroem nossa forma de viver, mas não podem destruir nossa esperança e nossa fé naquilo que acreditamos e queremos". Essa é nossa caminhada e nossa luta. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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