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Conversa, sábado, 07 de maio de 2016

Ontem, desembarquei de um voo da Swissair em Zurich na Suiça e, duas horas depois, de outro voo que me trouxe à Florença. Ontem ainda, em uma paróquia de Prato, cidade da Toscana, tive um encontro com quase cem pessoas sobre espiritualidade ecológica no sentido da ecologia integral, proposta pelo papa Francisco na encíclica Laudatum sii.

Ao viajar assim, a gente faz a experiência de passar por fronteiras. As fronteiras são muros invisíveis, mais fortes e difíceis de transpor do que muros de pedra ou cortinas de ferro. Muros que separam povos e culturas. Muros erguidos contra o outro e para isolar países uns dos outros.

É verdade que nossa cultura tem sido cada vez mais fundamentada em muros altos e portões fechados para o que se chama de segurança. Conheço um jovem, coração bom e generoso, mas que ganha a vida vendendo sistemas de segurança, alarmes e telas de vigilância e se o comprador quiser, cercas elétricas que não são cadeiras elétricas, mas também matam quem nelas ousar tocar. 

Ante-ontem, em São Paulo, meu sobrinho me fez conhecer o tal aplicativo UBER. Tomei um carro da Uber que me levou ao aeroporto. O preço é menos da metade do taxi comum. E com conforto e segurança. Tenho pena dos taxistas pobres que não vão conseguir sustentar a concorrência. E no Uber há duas alternativas: um carro privado para você ou, se preferir, um carro compartilhado que sai bem mais barato. Mas, o motorista que me levou ao aeroporto me explicou que as pessoas estão reagindo: Vou viajar em um taxi junto com pessoas que nem conheço? Certamente essas pessoas vão preferir também um ônibus privado e um avião privado já que não conhecem os passageiros ao lado dos quais viajam. Veem o outro como eventual ameaça e até como inimigo em potencial. 

No mundo do final da segunda guerra mundial e no começo dos anos 50, no mundo inteiro havia cinco muros que separavam povos e territórios internacionais. Cinco. Atualmente são 65 muros e grades invioláveis e que separam fronteiras em todo o mundo. (Fonte: revista Mosaico di Pace, fev. 2016). O Comissariado da ONU para os refugiados acabou de publicar que, atualmente, estima em 175 milhões de pessoas que saem de seus países para sobreviver. De acordo com as leis internacionais, essas pessoas teriam direito de asilo e de viver em outros países. Na prática, encontram muros e portões fechados. E em alguns países, são presos e deportados para morrer em sua terra. A Europa e EUA atacam a Síria e destroem o país. De dois anos para cá, 110 mil pessoas tentaram sair de lá para sobreviver. São proibidos e obrigados a voltar às ruínas de um país destruido e em guerra. 

O sistema capitalista dos países ricos que dominam o mundo destrói a natureza. De três anos para cá, se contam em 32, 4 milhões de pessoas obrigadas a abandonar a própria casa em conseqüência de desastres naturais... A maioria delas está em campos de concentração fora dos muros e fronteiras criados pelo desamor humano. O papa está gritando e apelando contra o comércio das armas, as políticas financeiras responsáveis pelo empobrecimento e desemprego de milhões e pedindo que se retome uma cultura de acolhida e diálogo sem a qual o mundo vai mergulhar na tragédia de uma guerra sem fim... 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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