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Conversa, terça feira, 07 de agosto 2012

Estou em Brasília para gravar programas de TV para a TV Supren, emissora de uma ONG espiritualista, A União Planetária que transmite a cada semana (na terça feira e no sábado às 09 h) pelo Canal 2 da NET esse programa: "Encontro para o bom viver". Cada semana, entrevisto uma pessoa e procuro variar entre alguém do mundo mais intelectual, uma pessoa militante de movimentos populares, artistas, etc. Gravo uma vez por mês e dessa vez, entrevistarei um jornalista (João Domingos de Araújo - sobre o compromisso da grande imprensa - ele é do Estadão - com o interesse de uma elite do país ), uma irmã coordenadora da pastoral dos migrantes (irmã Rosita Milesi - sobre a situação dos migrantes no brasil e do Brasil), um bispo anglicano (Dom Maurício Andrade) e um deputado do PSOL (Chico Alencar) sobre como é ser político hoje e como ele consegue ser parlamentar de esquerda e cristão militante. 

Amanhã às 17 horas vou ao Tribunal Superior do Trabalho que quer me dar uma medalha de honra ao mérito do trabalho - a maior comenda do TST - fui indicado pela Dra Dora Maria da Costa, excelente juíza que sempre defendeu a causa dos pequenos. Ela indicou meu nome parece que para lembrar o fato de que há mais de 40 anos (nesse ano faço 50 de monge), trabalho com as comunidades pobres e movimentos populares do campo. Não me acho merecedor disso. Se pudesse, declinava dessa honra em favor de pessoas como Reginaldo Veloso, Ivo Poleto, João Pedro Stédile, Angelina da ACO e tantos companheiros e companheiras que mereceriam essa honra muito mais do que eu. Mas, como não posso fazer com que sejam eles os homenageados, aceito ir para representá-los e principalmente ao povo - lembro-me dos meus pais operários que trabalharam duro a vida inteira com salário mínimo e meu irmão Marcílio que até hoje levanta às quatro e meia da manhã para pegar no trabalho às seis e às vezes quando telefono para ele às dez da noite ainda não está em casa. Soube que a cerimônia será formal e meio seca. Se eu pudesse falar, pedia ao TST para entrar na luta contra o trabalho escravo que, no Brasil, ainda existe no campo e na cidade. No campo, o ano passado, a CPT contabilizou 249 casos de lavradores encontrados trabalhando em regime de escravidão. Foram quase 5000 trabalhadores, dos quais os fiscais do Ministério do Trabalho conseguiram libertar apenas 2700. E os outros? E os não contabilizados? Há anos, os movimentos pela justiça no campo tentam que o Congresso aprove uma lei segundo a qual toda propriedade que for descoberta praticando trabalho escravo será desapropriada para fins de reforma agrária... Mas, como esse congresso que acabou de aprovar o código anti-florestal vai aprovar uma lei dessas. Só se deixar de ser dominado pela senadora Kátia Abreu e por outros latifundiários e coronéis. E em pleno centro de São Paulo, pensar que ainda existem indústrias que empregam bolivianos que nem podem sair do local de trabalho, dormem no próprio galpão, em condições precárias, para receber um salário ilegal e sem direito trabalhista nenhum, apenas pelo fato de estarem no Brasil sem o visto permanente. O TST tem sim de intervir nisso. 

Não poderei falar, mas já escrevi um texto e vou deixar com os juízes e juízas que aceitarem.  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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