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Meditação bíblica, 13 de maio de 2012

Amor 

Queridos irmãos e irmãs, 

Hoje é o 6o Domingo da Páscoa. Já quase está acabando o tempo pascal e tenho a sensação de tê-lo curtido pouco, ou bem menos do que gostaria. É claro que a comparação não pode ser entre hoje que vivo como monge eremita (só) e quando tinha o mosteiro e um mosteiro inserido que tentava inculturar-se na cultura brasileira. Não, nenhuma nostalgia é pascal e o importante é viver o hoje de Deus. Do modo de hoje e com as pessoas maravilhosas que tenho ao meu redor, vivo uma celebração pascal diferente, menos litúrgica, mas mais vivencial. O evangelho de hoje me toca muito por vários motivos. João 15, 9- 17 traz duas vezes as palavras de Jesus na ceia: Eu vos dou um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei e o Pai me ama" (João 15, 9). `

Às vezes tenho a impressão de que esse tipo de palavra já nem pega mais. Na gíria, o pessoal diz: enche o saco. Fala-se tanto em amor, amor e o que se vê é diferente. As próprias Igrejas cristãs que dizem vir de Jesus dão a impressão de preferir o poder ao amor. E o mundo nem se fala. Por outro lado, uma vez Camus escreveu: "Se eu escrever um livro sobre ética, faço um livro de cem páginas, deixo 99 vazias e na primeira escrevo: "A ordem é amar". E pronto. Toda ética está explicada. O problema é que não é possível se mandar amar. Amor não é objeto de lei e mesmo o tal mandamento de Jesus soa meio estranho. Uma coisa é pedir amor, oferecer amor,   

propor amor. Mas, mandar que se ame? É estranho. Principalmente se a compreensão de amor que temos é a do amor como sentimento ou emoção da paixão. O amor do qual Jesus fala é diferente. Pode ter esse sentimento que em grego se chama eros, mas é fundamentalmente opção de amar. É o fato de colocar o amor como uma espécie de princípio de vida que norteie todo o nosso modo de ser e de se relacionar. Não é somente um sentimento afetivo, embora possa ser sim e é importante, mas é principalmente uma opção de vida: uma linha que damos ao nosso modo de ser e viver. Aí dá sim para haver uma ordem de amar ("ordo amoris") e a vida da gente muda. Penso que vi isso se concretizando em pessoas como Dom Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, mas vi também em senhoras simples, mães de família (hoje é dia das mães) e em determinados momentos da vida, penso que consegui viver isso. Pena que ainda não consegui que seja sempre. De qualquer modo, é isso o que quero e isso Deus sabe que é verdade. 

No final de sua vida, o irmão Charles de Foucauld, fundador dos irmãozinhos e irmãzinhas de Jesus, escreveu: "Meu Jesus, quero amar todas as pessoas que tu amas. Contigo quero amar a vontade do Pai. Quero que nada separe o meu coração do teu., que no meu ser, nada haja que não seja imerso no teu. Tudo o que queres, eu o quero. O que desejas, eu desejo. Dou-te meu coração, junto com o teu, oferece-o ao Pai como algo que é teu e que te é possível oferecer porque te pertence" (Orações do Judaísmo, Cristianismo e Islã - Vozes, p121). Não sinto que possa dizer plenamente essa oração, mas eu a oro não porque espelha o que eu vivo já, mas reflete o que eu quero viver. Deus abençoe vocês. O irmão Marcelo.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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