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Meditação bíblica para o domingo, 01 de março 2015

Nesse 2° Domingo da Quaresma, como acontece anualmente, a Igreja nos convida a contemplar a transfiguração de Jesus no alto da montanha. Quando entrei no mosteiro, aos 18 anos, aprendi que a transfiguração era a meta de toda a vida espiritual. Transformar-se. Tornar-se como divino na intimidade com Deus. De fato, até hoje, essa cena do evangelho me toca de um modo especial, não só por ser linda e comovente, mas por conter uma revelação importante. Só que em um sentido diferente daquele que eu dava quando era jovem. Eu compreendia a transfiguração como uma espécie de antecipação da ressurreição como se "para os discípulos suportarem o caminho da cruz" que eles iriam seguir em breve, Deus houvesse aberto uma fresta no futuro glorioso para eles anteverem e assim confiarem e permanecerem fieis até o fim. Essa era a interpretação clássica comum. Hoje, eu compreendo que, de certo modo, isso é verdade no sentido oposto. Não é o anúncio da ressurreição depois da morte e sim da presença divina e da glória de Deus na própria cruz que Jesus acabara de revelar aos discípulos (Mc 8, 23 ss). Era como se aquilo que Jesus tinha dito: quem quiser me seguir tem de tomar a sua cruz, agora, o próprio Deus dissesse: ele é o meu filho amado. Escutem-no....

É isso mesmo que ele falou. Eu garanto. Assino embaixo...

Todos nós fazemos a experiência de viver uma vida inteira com uma pessoa (que pode ser um amigo, ou esposo ou esposa) e por mais que conheçamos intimamente a pessoa, ela sempre pode surpreender. Sempre pode em um determinado momento se revelar a nós de um modo novo. Foi isso que ocorreu com Jesus. Mesmo se os discípulos o conheciam e conviviam com ele todo dia, naquele momento descobriram ou o viram de um modo novo... Jesus é sempre o mesmo. Não mudou. O que mudou foi o olhar dos discípulos, dos três que ele escolheu para revelar a sua intimidade. Agora nós relemos esse evangelho para nos lembrar que todos nós, discípulos e discípulas de Jesus, somos chamados a viver essa intimidade com Jesus, mas a intimidade com ele não se vive no alto da montanha como Pedro queria (vamos fazer três tendas) e sim na luta do dia a dia, no caminho da cruz, ou seja, da missão de doar a vida uns aos outros. Que nessa Páscoa possamos dar um passo a mais na fidelidade a esse caminho. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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