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Meditação bíblica para o domingo 12 de outubro 2014

No Brasil, nesse domingo, 12 de outubro, a Igreja Católica celebra a festa de Nossa Senhora Aparecida. Escolheram esse dia (data da invasão da América pelos conquistadores espanhóis) para dar ao Brasil uma alternativa  ao feriado que tem hoje nos outros países do continente latino-americano (o dia da raça, dia do índio, etc). É pena essa forma de fazer que usa a religião para legitimar coisas que por séculos tentamos vencer, como essa tendência do Brasil se isolar dos outros países irmãos. Afinal, se os católicos querem celebrar Maria porque não fazer isso no mesmo dia em que os outros celebram Guadalupe (12 de dezembro)? Mas, enfim, o fato é esse e ainda o presidente Figueredo nos deixou como herança um feriado nesse dia, que crentes ou não crentes têm de guardar.

O Evangelho da missa escolhida para essa festa é a história das bodas de Caná (João 2, 1- 12). A festa de casamento na qual Jesus transformou água em vinho foi o primeiro sinal que ele deu aos discípulos a respeito de sua missão e de sua identidade de enviado de Deus. Penso que esse evangelho foi escolhido para dizer que na vida do povo católico brasileiro a imagem de Aparecida foi também um sinal do amor divino e da proteção que Deus quer nos dar, através dessa relação dos fieis com Maria.

É bom pensarmos a fé como uma festa de casamento, mesmo se a nossa relação com Deus deveria ser mais íntima ainda e mais interior (Deus em nós) do que um ato conjugal. De todo modo, a alegria, o amor e a imagem da fecundidade presente na festa de casamento são parábolas da nossa aliança de intimidade com Deus. E o vinho abundante e sem medidas é também um sacramento dessa alegria ou dessa embriaguez de amor. 

Às vezes, ao pensar na devoção do povo católico a Maria, penso que o objeto dessa devoção é uma imagem feminina e maternal de Deus e não tanto em si a figura histórica da mãe de Jesus. E assim como na parábola das bodas de Caná, Maria faz com que seu filho antecipe sua hora (sua missão e o anúncio de sua Páscoa) só para dar alegria e restituir a dignidade a uma família pobre que não tinha mais vinho para a festa, também, hoje, essa relação filial com Maria é instrumento da relação de aliança pascal com Deus, através de Jesus.

Ontem soube que Malala, essa adolescente afegã de 17 anos, ganhou o prêmio Nobel da Paz de 2014, junto com um indiano militante de direitos humanos. Que bom. Parece assim um sinal de uma nova festa de amor e direitos humanos na humanidade. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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