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Meditação bíblica para o domingo, 28 de dezembro 2014

Esse domingo dentro dos oito dias da festa do Natal é consagrado pela Igreja a uma contemplação de José e Maria, a família de Jesus. Por isso, se lê trechos de evangelhos que falem de como Maria e José cuidaram do menino. Hoje, o evangelho do ano B é o da apresentação do menino Jesus ao templo, fato que segundo o evangelho, teria ocorrido 40 depois do nascimento. Até hoje, celebramos a festa da Apresentação de Jesus no dia 02 de fevereiro,  quarenta dias depois do Natal. Mas, nesse domingo se antecipa esse evangelho para mostrar como os pais de Jesus cumprem por ele o que a lei judaica determinava. 

 Conforme a lei de Israel, na hora em que Jesus é apresentado ao templo, ele passa a fazer parte do seu povo. Para os pais, Maria e José, o que importa é o cumprimento da lei. Eles são tão pobres que não podem oferecer o sacrifício “normal” para a ocasião e ofertam aquilo que a lei diz que apenas as pessoas mais pobres e indigentes podem oferecer: um casal de rolinhas (Lv 12, 8).  

 De fato, o evangelho de Lucas junta dois ritos judaicos como se fossem um só: a purificação da mãe e a apresentação do filho. Além disso, conforme a lei, no caso do primeiro filho de um casal, eles deveriam fazer o “resgate do primogênito”. O que significa isso? É um sacrifício que os pais oferecem a Deus como uma espécie de sinal de que estão pedindo a Deus permissão para ficar e cuidar do menino que deveria ser consagrado, isso é, ficar no templo (sempre o mais velho de cada família). A família pedia ao Senhor para ficar com o menino, mas, ao mesmo tempo, prometia que ele seria sempre consagrado a Deus (Cf. Ex 13, 2. 12. 15).

A comunidade de Lucas não faz nenhuma alusão a esse rito do resgate do primogênito. Talvez não fale desse resgate do menino porque era um rito de pouco interesse para os não judeus, aos quais a comunidade de Lucas se dirige no seu evangelho. Os antigos pastores da Igreja pensaram que o evangelho não fala desse rito do resgate do menino para deixar claro que, desde o início de sua vida, o menino já pertencia mesmo a seu Pai do céu. Ele é apenas apresentado e não para se purificar e sim para purificar o templo.

E Lucas mostra o templo não como o lugar dos sacerdotes como seria o normal e sim como o lugar da profecia. É como se dissesse para nós que o papel da religião e do templo ou é profético ou é vazio. Atualmente, na Igreja Católica, o papa Francisco está resgatando isso. E muita gente no clero e na Igreja não o entende e o critica por isso. 

Esse trecho do evangelho sublinha que a profecia tem um jeito masculino com Simeão e um estilo feminino com Ana. É a partir daí que Simeão profetiza sobre Jesus: “luz para os gentios, salvação para todos os povos e glória para Israel”. No templo, Jesus que antes em Belém fora reconhecido pelo povo dos pobres (os pastores), agora é reconhecido pelos profetas: esse casal também simbólico: Simeão e Ana. Simeão profetiza que Israel pode alegrar-se porque deu Jesus à humanidade, mas este será luz para todos os povos.

Esse casal de profetas representa também a importância dos mais velhos na comunidade. Em um mundo dominado pela produção e pelo dinheiro, muitas vezes, as pessoas mais velhas são marginalizadas, ao contrário, de caminhos espirituais como as religiões afro-brasileiras e indígenas, nas quais os mais velhos têm um papel preponderante.

Em algumas comunidades cristãs populares, mesmo se o rito do batismo ficar para mais tarde, o pai e a mãe apresentam a criança recém-nascida a Deus e à comunidade. É um gesto lindo e de significado comunitário.

Comumente a tradição cristã interpretou que a palavra do velho Simeão alude ao destino de Jesus dar a vida pela humanidade na cruz e às divisões que a missão dele iria provocar (cf Lc 12, 51ss). Mas, talvez mais profundamente, se trate da própria verdade de Deus (e da vida), manifestada por Jesus. Deus sempre pede de nós uma escolha: um sim ou um não. É uma decisão que sempre se traduz em um sim ou um não à vida.

A velha Ana é símbolo dessa espera feminina do messias: é mulher profetisa, anciã e viúva. No cristianismo primitivo, a categoria das viúvas era muito valorizada na comunidade (Cf 1 Tm 5, 5- 9). A mulher podia ser profetisa, isto é, falar em público na Igreja e ter uma função ativa na comunidade. Hoje, muitos grupos de base são coordenados por mulheres, mas em algumas Igrejas, como na nossa (a Católica) o ministério feminino ainda é pouco reconhecido e valorizado. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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