Marcelo Barros, vida de partidas e travessias!
Quem conhece Marcelo Barros descobre que ele poderia ser político ou ter feito uma carreira artística. Desde criança, interessou-se muito pelos animais e animais selvagens. Sonhou em ser veterinário... Desde jovem, viveu muitas paixões e nunca houve disciplina ou educação repressora que conseguisse que ele fosse menos aberto ao amor. Poucas pessoas compreendem como um homem assim se tornou monge beneditino.
Mesmo um monge que sempre viveu sua vocação de forma alternativa e inovadora.
1 - O começo da história
Nasceu em 1944, no grande Recife, PE, de uma família de operários, sendo ele o primeiro de dez irmãos e irmãs. Ele conta que, depois de certa fantasia infantil, abandonada no tempo da adolescência, decidiu ser monge e padre aos 18 anos. Pediu para entrar no Mosteiro dos beneditinos de Olinda, desde que lhe fosse sempre permitido trabalhar com as pessoas mais pobres e visitar cultos de outras Igrejas e religiões. E, como era a época em que a Igreja se abria a um tempo novo, fez profissão de monge em 1965 no mesmo dia em que, em Roma, se encerrava o Concílio Vaticano II. Talvez por isso o espírito e a mensagem do Concílio foi sempre tão importante para Marcelo. De fato, ele sempre trabalhou pela renovação da Igreja para que ela se coloque em diálogo com o mundo e a serviço dos mais empobrecidos.
2 - O servidor do Outro
Não deixa de ser curioso um monge beneditino e um padre católico que, desde jovem, sempre teve e tem mais inserção, trabalho e relação com pessoas de outras Igrejas e religiões do que na sua própria "casa". Ele é mais convidado para dar cursos e pregar retiros por religiosos de outras Igrejas e por pessoas de outras religiões do que por instituições da sua própria família religiosa. Será que é por que, como disse Jesus, nenhum profeta é bem aceito em seu próprio meio?
Já em 1967, Marcelo ofereceu-se para integrar uma fraternidade ecumênica na qual viviam irmãos católicos (beneditinos) e evangélicos (irmãos de Taizé). Essa comunidade funcionou de 1967 a 1969.
A partir de 1992, Marcelo se inseriu na relação com comunidades de tradição afrobrasileira. Em 1999, em uma festa do Candomblé, no Opô Afonjá, em Salvador, Marcelo foi suspenso "Ogã de Xangô".
Atualmente, ele é membro do Fórum Diálogos pela Diversidade Religiosa e contra a Discriminação, organismo do Ministério Público em Pernambuco. Também participa do Comitê Interreligioso pela Democracia.
3 - E na Pastoral?
Em 1969, foi ordenado padre por Dom Hélder Câmara. Em maio daquele ano, no Recife, agentes da Ditadura Militar assassinaram barbaramente o padre Antônio Henrique Pereira Neto. O único crime do padre era ser assessor da pastoral da juventude secundarista. Marcelo e mais o padre Ivan Teófilo (salesiano) e a irmã Pompea Bernasconi se dispuseram a substituir o padre assassinado e dar continuidade aos trabalhos da PJ. Marcelo morou com um grupo de jovens (a Fraternidade) durante cinco anos. E colaborou com o movimento de Encontro de Irmãos, movimento de evangelização dos pobres, criado por Dom Helder. Nesse tempo, colaborou com um grupo político para ajudar aos prisioneiros políticos. Por isso, em abril de 1974, junto com Dom José Maria Pires e a irmã Maria Letícia Penido, foi preso por um dia inteiro. Além disso, até 1976, trabalhou como secretário e assessor de Dom Hélder para assuntos ecumênicos.
Em 1977, um homem de cidade grande e que nunca tinha tido nenhum contato pessoal com o mundo rural foi viver na Cidade de Goiás, antiga capital de Goiás. E a partir daí, ele se inseriu na Pastoral da Terra e durante 14 anos foi membro do secretariado nacional da CPT. Em 1981, foi para o Sul para apoiar o primeiro acampamento de lavradores em Ronda Alta. Ali passou um dia (da manhã à tarde) preso pelo coronel Curió.
4 - Cidadão do mundo
É geral alguém perguntar onde está Marcelo e saber que, naqueles dias, está na Itália, como pode estar na Tunísia ou em Nairobi. No entanto, é mais fácil que esteja em algum país da América Latina que ele ama tanto. Desde os anos 70, até ser operado do coração (2011), ia cada ano a cidades da Bolívia como Cochabamba, Oruro e La Paz. Estabeleceu um tal contato com o Bolivarianismo na Venezuela que no Fórum Social de Caracas, tornou-se amigo pessoal do presidente Hugo Chávez. Alguns dias depois da morte do presidente, um de seus secretários entrou nos aposentos particulares do presidente e, ao lado da cama, encontrou um livro todo sublinhado: "Para onde vai Nuestra América" de Marcelo Barros.
Em 2012, foi convidado para falar em Cezenna no norte da Itália. Ao chegar lá, lhe fizeram a surpresa. Tinha sido escolhido para receber uma comenda A cruz da Paz pelo seu trabalho no plano do diálogo entre as religiões para a Paz. Ele faz isso sem perder a inserção no lugar onde mora. Morou em Goiás e a Câmara Municipal da Cidade de Goiás lhe deu o título de cidadão de honra de Goiás (2002). Três anos depois, receberia o título de cidadão honorário de Goiânia. Nem se lembra quantas medalhas recebeu, mas sempre diz que a homenagem que mais lhe toca foi o prêmio que a direção nacional do MST lhe deu (2014) de "Amigo dos Lavradores sem Terra".
5 - Estudo é uma coisa. Sabedoria é outra...
Marcelo é teólogo especializado em Bíblia (se chama biblista), do grupo fundador do CEBI, Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos. É um dos três latino-americanos membros da Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo (ASETT) que reúne teólogos da América Latina, África, Ásia e ainda minorias negras e indígenas da América do Norte. Atualmente, é coordenador latino-americano dessa associação. Há anos, desenvolve uma pesquisa teológica sobre a relação do Cristianismo com as religiões negras e indígenas e, junto com mais dois teólogos, coordenou uma coleção sobre a Teologia do Pluralismo Religioso e um Cristianismo aberto a outras culturas e religiões. No âmbito da Teologia da Libertação, desenvolveu um ramo próprio: a “Teologia da Terra”. Assessora alguns movimentos sociais e as comunidades eclesiais de base.
Em todo o continente latino-americano, é conhecido como um dos estudiosos que ajudam as Igrejas a desenvolver uma reflexão teológica sobre sua missão de solidariedade e inserção junto aos lavradores e sem-terra, como também desenvolve uma teologia sobre uma concepção do cristianismo aberta às outras religiões. E tem sido também convidado para diversos países para falar sobre Ecologia e Espiritualidade Holística sendo que seu livro “O Espírito vem pelas Águas” (Como enfrentar a crise mundial da água através de uma espiritualidade ecumênica) está traduzido em espanhol, alemão e flamengo.
Foi professor de Sagrada Escritura (Antigo Testamento) do Seminário Teológico da Arquidiocese de Goiânia de 1979 a 1984 e professor de Liturgia no Curso de Especialização de Liturgia da Faculdade Nossa Senhora da Assunção em São Paulo de 1979 a 1987.
É professor convidado do CESEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Pastoral) em São Paulo e de diversos organismos pastorais e ecumênicos em toda a América Latina.
Tudo isso nunca o fez perder as raízes populares. Continua acompanhando grupo de bases. Colabora com revistas brasileiras e de outros países, na América Latina e na Europa. Semanalmente, publica um artigo sobre “espiritualidade ecumênica e desafios da vida”, editado pelo jornal “O Popular”, por um jornal de Caracas (Correo del Orinoco) e um de San Juan de Puerto Rico (Claridad) . Esse artigo é reproduzido em alguns outros jornais brasileiros e em vários sites da internet.
6 - O que mais o marca
Não é sua pertença institucional à Igreja. Não é sua competência como educador (recebeu da Assembleia Estadual de Pernambuco a medalha Paulo Freire de honra ao mérito em Educação, 2015). O que mais o ocupa e toma a parte mais importante de sua vida é a permanente busca por uma Espiritualidade que une a intimidade com o Mistério (Deus), a solidariedade aos oprimidos, o amor afetuoso a toda pessoa que se aproxima dele e o cuidado com a mãe Terra e toda a natureza. O que ele mais gosta de fazer é celebrar quando está com um grupo inserido na realidade e tem liberdade de celebrar Deus presente na vida do povo. Desde novo, sempre que festeja uma etapa de vida, volta a lembrar o versículo bíblico que escolheu quando tinha 21 anos e foi fazer seus votos de monge: "Pela fé, Abraão partiu e partiu sem saber para onde ia" (Hb 11, 8 ss). Até hoje, Marcelo continua essa peregrinação.
Assessoria Marcelo Barros