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A ONU e a aliança da humanidade

Aliança da humanidade para impedir a venda do mundo

               Nesse 24 de outubro, a ONU completa 70 anos de serviço à humanidade. Também a Declaração Universal dos Direitos Humanos fará 70 anos no dia 10 de dezembro. Esses aniversários significativos nos encontram mergulhados em grave crise civilizatória. Infelizmente, para sair dessa situação, não contamos com governos nem com organismos internacionais instituídos. A própria ONU, dominada pelos governos que dirigem o mundo,  se mostra, frágil e impotente. Até mesmo as religiões que deveriam oferecer caminhos de salvação à humanidade, não têm conseguido dar ao mundo um rumo mais sadio. As próprias Igrejas cristãs nasceram como movimento profético por um novo mundo possível. Entretanto, acabaram, elas também, sendo cooptadas pela idolatria do poder, do consumo e vazio. 

Em meio a essa crise, são pessoas que amam a paz, militantes sociais, e comunidades dos povos originários que têm articulado novas resistências e utopias. Em janeiro de 1994, no sul do México, os índios de Chiapas se levantaram contra o Acordo de Livre Comércio da América do Norte. Desde então, por três vezes, povos indígenas e aliados de diversos continentes se reuniram em algum ponto da floresta Laconda para “Encontros da Humanidade pela Vida e contra o Neoliberalismo”. Em 2001, militantes e intelectuais de diversos países organizaram o 1º Fórum Social Mundial. A partir daí, em diferentes continentes, já se realizaram 18 sessões do FSM e fóruns temáticos sobre Educação, Saúde, Ecologia, Cidadania, etc... Até agora, o FSM (Fórum Social Mundial) continua o seu processo. No entanto, nos últimos anos, já não tem a mesma força. Outras entidades e organizações têm procurado reagir à barbárie que, a cada dia, ameaça a humanidade e a Terra. Desde a década passada, em vários países, surgiram várias campanhas no meio da sociedade civil. A luta pela democratização da Água como bem indispensável à Vida e direito de todo ser vivo mobilizou cidades. Em, alguns países conseguiram deter a comercialização pública da água. Na Itália e outros países da Europa a campanha “Proclamemos Ilegal a Pobreza” sensibilizou muita gente.

Em 2017, alguns cientistas sociais e humanistas de vários continentes que se consagraram a algumas dessas campanhas altermundialistas, (como, na Itália,  o economista Riccardo Petrella e a militante social Paola Libanti, na França,  a professora Corinne Ducrey e o cientista social Patrick Viveret, em Portugal,  o reitor da Universidade de Coimbra, João Caraça, no Chile, o bispo Dom Luis Infanti), criaram a Fundação Audácia em nome da Humanidade. O objetivo é colocar a humanidade como sujeito principal da autorregulação do viver juntos em escala global, responsável pela vida na Terra e pela vida da própria Terra. Assim os(as) habitantes poderão agir contra a mercantilização e a privatização de todas as formas de vida. Em diálogo com ONGs e movimentos sociais criaram o programa “Audácia em nome da Humanidade”. Querem mobilizar pessoas e grupos para reconhecer a humanidade como atriz-chave para a regulação política, econômica e social em todo o mundo. Efetivamente, só a humanidade pode falar e agir para transformar o mundo, no sentido de favorecer e proteger a vida na Terra e todos seus habitantes (incluídas aí todas as espécies viventes). Para isso, propõem um processo de Ágora dos Habitantes da Terra(AHT). Inspirados na antiga Ágora das cidades gregas como espaço de discussão democrática, querem propor uma aliança da humanidade e em nome de todos/as os/as habitantes da Terra, inclusive os não humanos. 

Até agora, essa iniciativa ainda não conseguiu se tornar amplamente conhecida, embora já esteja, em vários países, realizando encontros locais e regionais. Na América Latina, houve um em bom encontro da Ágora em Santiago do Chile (agosto) e outro em Rosário (Argentina). No Brasil, a Caritas, a Pastoral da Juventude, o Movimento de Ecovilas e outras entidades estão implicadas nesse processo. Em dezembro, ocorrerá em Verona na Itália um primeiro encontro internacional da Ágora. 

Na celebração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, essa aliança da humanidade quer reivindicar a força da vida, a liberdade e a justiça, alcançadas por meio dos direitos conquistados até agora. Têm de se equipar com instituições e meios para, a partir das comunidades locais, assumir a gestão de seu futuro comum sobre uma base pluralista, cooperativa e participativa. A segurança da vida e o bem viver não podem ser dissociados. É assunto coletivo, comum e global. Local e internacionalmente, se propõe um processo que fortaleça uma cultura coletiva que exija a erradicação da guerra e, como se lutou contra o estatuto da escravidão, se declare ilegal a pobreza e a exclusão social. Isso supõe desacreditar o atual sistema financeiro especulativo depredador. 

Nesses dias, o povo brasileiro está mobilizado para o segundo turno de eleições presidenciais. Essa votação pode marcar a continuidade da democracia, ou entregar o Brasil à barbárie da violência e do fascismo. Diante de uma tragédia de tais proporções, esse projeto da Ágora pode soar como algo longínquo e, claro, menos urgente. No entanto, o que está acontecendo no Brasil é expressão de uma violência do império que intervém no mundo inteiro para impor o seu projeto neocolonizador. É preciso, ao mesmo tempo, garantir a vitória da Democracia e a integração em um mundo no qual a Vida possa novamente ser o princípio norteador das relações sociais e do cuidado com o Planeta. Para quem quiser se informar melhor sobre o processo da Ágora dos Habitantes da Terra:

No Brasil, veja o site: www.habitantesdaterra.org.br

Internacional: Website:https://audacia-humanita.blogspot.com

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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