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​cinema, quinta feira, 27 de dezembro 2012

Ontem, com minha irmã e três sobrinhos, vi um filme que me satisfez profundamente. No Brasil, se chama  "As aventuras de Pi", a nova obra de Ang Lee que deu ao cinema mundial obras como "O tigre e o dragão", "Razão e Sensibilidade", além da "A montanha de Brokebake Mountain". Dessa vez, a história de Pi, baseada em um romance canadense (até acusaram o autor de ter plagiado um romancista brasileiro Moacyr Sclair) foi transformado por Ang Lee em um filme ao meu ver maravilhoso, uma obra prima do cinema mundial. Talvez alguém que o viu pense que estou dizendo isso pelo conteúdo inter-religioso ou ecumênico do filme já que o rapaz em questão (Pi) se diz ao mesmo tempo hindu, cristão e muçulmano. E discute muito a questão de Deus. Acho isso interessante não em si mesmo mas para ajudar a quem vê o filme perceber que a aventura que vem depois é de certa forma um aprofundamento dessa mesma busca mística. Mas, em si mesmo, não foi a questão religiosa que me tocou mais nesse filme. Foi a aventura de apego à vida, de luta para se salvar no mar revolto depois de um naufrágio. Isso não seria um símbolo da vida de todos nós, de um jeito ou de outro? E aí sim o filme nos envolve e nos arrebata. As cenas no mar aberto, no  mar calmo, no mar tempestuoso, nas tomadas a partir da profundidade do oceano... De outras, nas quais o mar e o céu se juntam e parecem uma coisa só e o corpo do jovem paira como um asteroide no universo.... A luta do rapaz que tem apenas um bote para escapar no mar aberto e dentro desse bote tem um tigre selvagem.. E ele tem de conviver com esse tigre... Também não é simbólico. Até hoje, eu luto com o meu tigre interior no mar que nem sempre é favorável. E nem ele me engole, nem eu o mato - ao contrário, como diz Pi, de certa forma ele acaba me ajudando porque me mantém acordado e vigilante no meio de tantos perigos... 

Se puderem vê-lo não percam e depois conversaremos mais. 

Prestem atenção à música hindu do início do filme, mas a toda trilha sonora que é belíssima. Prestem atenção nas fotografias que são não apenas lindas, mas iniciáticas do que o filme quer simbolizar. Fazia tempo que não via um filme que me tocava tanto.

Hoje, 27 de dezembro, festa de São João evangelista, que a tradição da Igreja associa com o discípulo amado e portanto com todo cristão que vive sua vocação mística integralmente, nesse dia, eu fui batizado em Camaragibe. Tinha um mês de idade e nem sei como mais tarde soube que o dia foi esse. Mas, desde então, o celebro com ação de graças e alegria. Para mim ter recebido a vida nova do batismo e ter a graça de viver a fé tem sido tão ou mais importante do que eu ter nascido. Hoje, refaço o meu compromisso batismal e reafirmo que tanto o meu ser monge como padre são simplesmente formas e expressões da minha vocação batismal. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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