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Conversa, quarta feira, 10 de agosto 2016

Hoje, pela manhã, os 400 participantes do Fórum Mundial de Teologia e Libertação em Montreal no Canadá, foram divididos em pequenos grupos para visitar experiências comunitárias e organizações que trabalham por um novo mundo possível. Com outras 46 pessoas fui a uma aldeia indígena próxima da cidade: uma aldeia dos índios Mohawk. A primeira impressão impactante foi que não é mais o que normalmente chamamos de "aldeia indígena". É um pequeno povoado de casas bem organizadas, iguais às nossas ou até melhores e em um lugar belo de natureza verde e nas margens do Rio São Lourenço de águas tão transparentes que se pode beber. Depois, descobri que esse povo indígena é reconhecido pelo governo como indígena e finalmente depois de muitos sofrimentos recebe do governo várias facilidades que lhe permitem "melhorar de vida", isso é, em outras palavras, ser absorvido pela nossa sociedade em seu estilo de vida. Mas, eles reagem a isso mantendo sua cultura ao menos no que diz respeito a seus ritos tradicionais e ao culto da natureza. 

Fomos recebidos pelo Guardião da Casa Larga, como se chama o Xamã e pela coordenadora política da comunidade. Durante uma hora ele nos reuniu na Casa que reúne a comunidade para os ritos e lá nos fez entrar um pouco em sua cultura, em seu modo de ver o mundo... Senti que não tivemos tempo ou não podemos andar pelo campo, ver outras casas, visitar outras pessoas.... Talvez pelo fato de sermos teólogos, ele se achou na obrigação de nos falar de sua teologia (eu queria conhecer mais a comunidade) e talvez também havia certa proteção das mulheres e crianças diante de estrangeiros. Não sei... 

Os organizadores locais do Fórum nos fizeram sair dali para uma Igreja Católica - um velho templo de missão católica em meio à aldeia indígena. Missão São Francisco Xavier. E ali se venera Santa Catarina de Hahnawake, índia que viveu ali no século XVII e foi canonizada há poucos anos pelo papa Bento XVI. O grupo ficou lá mais de uma hora escutando a história e vendo um museu da missão. Eu me retirei... 

É claro que hoje não vivem mais o mesmo Catolicismo de conquista para converter índios. Mas, o museu ali me lembrava isso claramente. Os objetos xamânicos que vi ali guardados certamente foram retirados dos índios para libertá-los daquilo que consideravam suas superstições. A Igreja é bonita, colonial e cheia de ouro no teto. 

Cumprimentei a todos, mas fiquei afastado do grupo que ouvia as explicações. Nem queria conflituar, (acabávamos de ser bem recebidos pelos quatro representantes da paróquia) e não ajudaria em nada tumultuar. 

Para os teólogos e teólogas que durante todo o dia anterior refletiram sobre descolonização, aquilo era um contato quase direto com a Igreja que foi colonizadora no passado e que hoje não é mais do mesmo modo, (porque nem poderia ser, por causa do mundo atual) mas que não mudou sua teologia e sua espiritualidade. 

Na volta, um pneu furado no ônibus e atrasamos a chegada em Montreal. Chegamos na hora da marcha do Fórum Social. Uma marcha que foi muito menor do que em outros fóruns, mas com muitos jovens e pessoas do mundo inteiro. Eu estava com dor de cabeça e cansado. Tive de voltar para o colégio onde estou hospedado. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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