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Conversa, quinta feira, 06 de agosto 2015

Desde que, aos 18 anos, entrei no mosteiro de Olinda, sempre me tocou muito a celebração que as Igrejas antigas fazem hoje: a festa da transfiguração de Jesus. Simplesmente achava bonita a narrativa da história segundo a qual Jesus subiu ao alto da montanha com os três amigos mais íntimos e diante deles revelou a presença divina em seu próprio corpo. Transfigurou-se, isso é, mudou de figura.  E, ainda jovem, aprendi que o objetivo da vida cristã é transfigurar-se com Cristo, ou seja, ser transformado pelo Espírito... Meta que de um lado é dom e graça divina e do outro é sim abertura interior e esforço pessoal para corresponder à graça divina...

Tantos anos nesse caminho não sei a que ponto estou e nem se tenho progredido... Só sei que aprendi que, para ser divinizado, tenho de me tornar cada vez mais humano, mais sensível aos outros, mais capaz de ternura e de amor. Mas, minha educação religiosa não foi bem para isso. E tenho de me esforçar...

Ontem, aceitei ser entrevistado pela comissão que organiza os testemunhos e depoimentos do processo de canonização de Dom Helder Camara. Fiquei espantado com o teor de diversas perguntas. Neguei-me a responder sobre coisas ridículas, como se Dom Helder tinha virtudes heroicas, ou como ele viveu a prudência, a castidade e outras coisas mais... Teria querido dizer em voz alta e em bom tom que não acredito nesse modelo de santidade. Acho mesmo ridículo que o Vaticano ainda continue com esses critérios. Mas, me restringi a responder as questões e deixei de lado tudo o que não julguei correto responder. Teria gostado de dizer: Acredito que Dom Helder, durante o processo de sua vida e do seu amadurecimento humano, foi se tornando cada vez mais parecido com Jesus, não por ter virtudes heroicas ou por ser diferente de qualquer outra pessoa, mas por ter se tornado profundamente humano e aberto a tudo o que é humano.

Hoje, meio cansado e com as costas doídas de uma pequena queda, cheguei a Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. Aqui trabalharei com agentes de pastoral da arquidiocese (53 paróquias distribuídas em nove regiões pastorais) e o tema que me é pedido é Cuidado com a Vida como caminho de fé e de espiritualidade. Que Deus me ilumine para que eu saiba fazer isso bem. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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