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​Conversa, segunda feira, 19 de março 2012

Teólogos/as e bispos

Estou novamente em Verona, com meus amigos da paróquia de São Nicoló, perto da Arena, comunidade de artistas e intelectuais da qual, há vários anos, sou amigo. Nesses dias, estou aqui como hóspede porque devo falar no Instituto teológico dos franciscanos, aqui perto, sobre Uma nova economia possível e a espiritualidade ecumênica. Depois irei a Portugal para falar em um encontro internacional da pastoral dos ciganos. Vindo para cá no avião, li que o Vaticano publicou um novo documento sobre a função da teologia. E conforme o jornal espanhol "El País", o documento é feito para dizer que os teólogos devem se submeter aos bispos. Acho estranho esse tipo de observação porque conheço muitos teólogos e teólogas no Brasil e em outros países. Não sei de nenhum que queira mandar na Igreja ou que negue a tarefa própria de coordenação eclesial que é dos bispos. Entretanto, em qualquer área do conhecimento humano, para haver aprofundamento intelectual eficiente e fecundo, é fundamental haver liberdade de pesquisa. Se na Igreja os teólogos devem "submeter-se" (pode ser que esse termo tenha sido empregado pelo jornal mas não seja o termo exato do documento que, pessoalmente, não vi ainda). De todos os modos, me parece tudo isso lamentável porque, sem liberdade de pesquisa do pensamento, quem perde é toda a Igreja e sem dúvida em primeiro lugar os próprios bispos. Deus queira que, nessa semana, aniversário do martírio de Dom Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, todos os bispos católicos retomem as palavras que Dom Romero falou ainda nos anos 70:

"A autoridade na Igreja e da Igreja não é um poder, mas um serviço. Que vergonha isso me causa como pastor. Peço perdão à minha comunidade quando não agi como servidor de vocês na minha função de bispo. Não sou um chefe, não sou comandante, nem autoridade que se impõe. Quero ser apenas servidor, de vocês e de Deus" (...) Creio que o bispo deva sempre aprender do povo dos carismas que o Senhor dá à comunidade. Eu quero agradecer às pessoas que quando não estão de acordo com o bispo têm coragem de dialogar com ele ate convencê-lo do seu erro ou ao contrário se convencem de que os errados são eles" - palavras ditas na homilia de 09 e 10 de setembro de 2008. (Cf. Carlos Ayala Ramirez, La parola di Oscar Romero, Fundazione Oscar Romero, p. 23- 24). 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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