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Conversa, terça feira, 12 de abril 2016

Ontem, lembramos o dia 11 de abril de 1964, quando a arquidiocese de Olinda e Recife recebeu como nosso arcebispo Dom Helder Camara. Ele veio para Recife bem na metade dos seus trabalhos de articulação para renovar a Igreja no Concílio Vaticano II. O seu modo de trabalhar tinha várias coisas que chamavam a atenção de qualquer pessoa mais atenta. A primeira é que o objetivo de sua missão e o modo de trabalhar visavam uma transformação do mundo e não apenas um trabalho interno à Igreja. Isso era para ele tão claro que ele nem sentia necessidade de explicar... E muita gente não compreendia. A segunda particularidade era a sua capacidade e opção de sempre trabalhar em equipe e a partir do diálogo. Eu tinha 21 anos quando ele me chamou para ajudá-lo na questão ecumênica. Não entendia nada desse assunto. Foi ele que me formou. No entanto, em todos os nove anos em que trabalhei com ele, nunca o vi tomar uma decisão ou mesmo escrever um discurso sobre esse assunto sem me consultar e saber o que eu pensava daquilo... Era como se fosse uma mística, uma fé que ele tinha na gente... A terceira particularidade era a sua opção pelos leigos e leigas. Ele trabalhava e dava total autonomia e autoridade ao seu grupo de auxiliares que eram todos leigos, com exceção de um ou dois padres que o acompanhavam nos tempos do Rio. Aqui no Recife, ele valorizava muito Marcelo Carvalheira, Zildo Rocha e outros, mas o dia a dia era com os leigos... 

Em todos esses três aspectos, tenho a impressão de que depois de Dom Helder, andamos para trás não anos, mas séculos... Dom Helder priorizava a formação dos leigos/as e chegava a resumir os livros que estava lendo para eles e elas. Voltamos a pensar a Igreja de forma clerical... Como sair disso?  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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