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Meditação bíblica para o domingo, 05 de julho 2015

Neste domingo, o evangelho lido nas comunidades é o da rejeição que Jesus sofre por parte da sua família e dos seus vizinhos na pequena cidade de Nazaré onde ele morava e de onde ele era reconhecido como natural. O texto de Marcos (6, 1- 6) corresponde ao texto de Lucas que foi um dos mais importantes para a pastoral da Igreja na América Latina e a teologia dela decorrente: Lucas 4, 16 em diante: o discurso de Jesus na sinagoga de Nazaré. Segundo Lucas, ali ele diz que sua missão é profética inspirada no 3o Isaías e é de libertar as pessoas de tudo o que as oprime. Tanto Lucas como Marcos no texto lido hoje insistem que os judeus da sinagoga de Nazaré se espantam com ele e não o aceitam. Marcos não diz nada sobre o conteúdo do que ele teria dito na sinagoga (como Lucas diz). Só diz que sua família e seus conterrâneos (vizinhos) não o aceitam como profeta. Para eles, Jesus é um simples tekton, carpinteiro, filho de Maria. Para os judeus que sempre se referem a um rapaz como filho do seu pai, o fato de chamar Jesus "filho de Maria" pode ser insultuoso como entre nós dizer "aquele ali é um filho da mãe". Isso é: colocam em dúvida quem é seu pai. Se como pensou a exegese tradicional católica (para salvar a dignidade de Nossa Senhora), São José estaria morto (ninguém sabe), nesse caso, Maria era viúva e pobre e o seu filho mais velho teria obrigação (pela Bíblia e pela lei de Israel) a cuidar da mãe, enquanto Jesus a teria abandonado. Vivia como profeta itinerante. No cap. 3, Marcos conta que a mãe e a família tentaram trazê-lo de volta para casa, mas ele não obedeceu e chegou a dizer: "Minha mãe e meus irmãos são todos os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática". Pobre da Igreja que quer a todo custo falar da Sagrada Família, (e Jesus a abandonou e, segundo os evangelhos, parece não ter dado a mínima para a família, a não ser quando esta entrou no seu grupo de discípulos e passou a fazer parte do grupo). 

Para os nazarenos, como acreditar nele? como respeitá-lo? O evangelho diz que Jesus nem podia fazer lá nenhum sinal (milagre) porque eles não acreditavam nele... Jesus rompeu com a sinagoga, rompeu com o seu círculo familiar e assumiu o fato de ser um profeta sem honra, sem crédito... É duro ser profeta assim. Isaías, Jeremias foram profetas que todo o povo considerava. Jesus foi um profeta sem honra em sua própria terra. Como na época em que viviam Dom Oscar Romero, rejeitado pelos seus próprios colegas, bispos, núncio apostólico e o próprio papa João Paulo II. Agora, esses mesmos ou seus sucessores o aceitam e até o beatificam, mas mudando a sua figura para torná-la mais palatável (digerível) pela instituição conservadora. No Brasil, Dom Helder Camara sofreu a mesma rejeição - da parte da própria Igreja institucional. Ele fundou a CNBB e o CELAM. Desde 1964, nunca foi eleito para nada em nenhuma dessas duas instituições que ele fundou. E assim que renunciou ao cargo de arcebispo de Olinda e Recife, foi totalmente marginalizado e ignorado. Agora depois de mais de 15 anos de morto, querem colocá-lo no altar...

Fizeram isso com Jesus. E para nós, seus discípulos, o desafio é tentar descobrir a partir dos evangelhos, quem foi realmente o Jesus de Nazaré que os moradores de sua cidade rejeitaram e nós somos chamados a conhecer e seguir. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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