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Meditação bíblica para o domingo 22 de novembro 2015

Nesse domingo, o último do ano litúrgico, a Igreja Católica celebra a festa do Cristo Rei.

Sobre essa festa, quero, em primeiro lugar, transcrever as palavras de Dom Helder Camara em uma de suas vigílias noturnas de oração. Na 25a circular, escrita no dia 27 de outubro de 1963, durante a 2a sessão do Concílio Vaticano II, o Dom escreveu:

"Celebrei a missa de Cristo Rei. Claro que ele é rei. Mas, de uma realeza tão diferente  que eu me angustio ao ver que, de certo modo, exploramos a realeza dele para justificar inconscientemente a nossa.

Durante a missa, pensei o tempo todo no pobre Rei, com estopa nas costas e coroado de espinhos. Durante a missa, fiquei repetindo baixinho: "Meu pobre Rei, para mim, você é Luciano". Luciano é um pobre que lembra ao vivo Jesus Cristo. Dependesse de mim e criaríamos uma festa nova: de Cristo Servidor e Pobre".

Um ano depois, em outra vigília de Cristo Rei, Dom Helder escreve:

"Tenho certeza, meu irmão, Jesus Cristo, de que nos entendemos, em absoluto, quando afirmo que a festa de hoje me aflige. Claro que tenho presente a cena evangélica na qual, interpelado oficialmente, declaraste tua realeza. Claro que tenho no ouvido a descrição que, de teu reino, faz o prefácio da missa de hoje: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz....

Claro que não esqueço que, um dia, todos os homens seremos julgados por Ti, como com  a melhor das intenções, tua realeza tem sido interpretada em termos não evangélicos.

Hoje, os homens brincam de Rei. Isso me parece válido até para a Inglaterra e é verdadeiríssimo para os povos onde aclamamos a Rainha da Primavera e do Maracatu ou o rei Momo 1° e único.

Cristo rei: Como explicar esse teu título aos 2/ 3 que estão no subdesenvolvimento e na fome?

Vão perguntar-me pela paz, pelo amor e pela justiça tão ausentes da terra. Vão indagar-me pela santidade e pela graça que se refugiam no mundo de tão poucos. Vão querer saber onde se escondem a verdade e a própria vida (viver humanamente não é só vegetar).

Tanto que disseste que teu reino não é desse mundo. De novo, nossa fraqueza transformou em império a tua Igreja e nem sabemos como nos desfazer dos novos e mais difíceis estados pontifícios e episcopais e congregacionais. Parece à nossa cegueira, a nosso pouco espirito evangélico que nem é viável de outra maneira.

Bem que te vestiste de Rei, tal como entendes tua realeza na terra, à véspera de tua morte! Mas, para consolar-te dos ultrajes recebidos, construímos Templos que são um ultraje à miséria dos nossos tempos. Quando tiraremos conseqüência prática da tua identificação com o Pobre e quando aprenderemos a lição forte do julgamento final?"

(trecho da 53a Circular durante a 3a sessão do Concílio Vaticano II - Roma, 24/ 15 de outubro de 1964, vigília de Cristo Rei).      

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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