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O despertar da iluminação

                No evangelho lido nesse domingo nas comunidades (Mateus 25, 1 - 13), Jesus se serve de uma parábola estranha e difícil de compreender no mundo atual para dizer que é fundamental nos mantermos vigilantes diante do mundo. Atualmente essa vigilância se traduz por uma atitude de permanente consciência crítica e de uma iluminação interior para manter acesa em nós a luz da esperança. 

              A chamada parábola das dez moças, companheiras ou amigas da noiva (a tradição a chamou de virgens) vem de um mundo muito diferente do nosso e supõe o antigo rito de casamento oriental. O cortejo do que se poderia chamar hoje de "damas de honra" entrava com a esposa no quarto de núpcias. O evangelho evita os detalhes mas se interessa pelo fato de que cinco delas eram prudentes e cuidaram de manter o azeite nas lanternas e outras cinco foram imprevidentes e descuidaram, de forma que, no momento em que o esposo chegou, tinham saído para comprar azeite. Pouco importam os detalhes e entrelinhas. O que importa a Jesus é dizer que o esposo vem na hora que menos se espera e todos temos de estar preparados, vigilantes. 

              Muitas tradições espirituais insistem no estado de consciência despertada. É um estado de iluminação. No Budismo, se alcança isso pela meditação, pela ioga, pelo caminho do despojamento e pela compaixão estendida ao infinito... O evangelho chama de vigilância na espera da vinda do Senhor ou do reino que ele traz. Quando vemos o que está acontecendo no Brasil e no mundo, temos a impressão de uma sociedade meio entorpecida pela sedução da publicidade enganosa e de uma imprensa que forma ou deforma as informações, de modo que o povo não se dê conta do que está acontecendo. O mais triste é vermos que mesmo nas Igrejas, muitos pastores e ministros também vivem como hipnotizados pela ilusão do poder, da vaidade e da rotina de quem segue tradições. 

                Nesses  dias, um amigo que tem um alto cargo na Justiça e que vive certo caminho de busca espiritual me disse: "Ao meu ver, as religiões dão uma imagem de Deus muito estranha. Deus seria um cara muito vaidoso e narcisista que onde chega, a primeira coisa que pede é que todos se inclinem diante dele e o adorem. Atualmente, começo a me perguntar se Deus é assim mesmo ou são as pessoas que se dizem dele que são assim e imaginam Deus à imagem e semelhança deles". 

                   Na Igreja Católica, o papa Francisco tem tentado acordar a Igreja e tem encontrado muita dificuldade em ser compreendido, principalmente com o clero e os seus irmãos no episcopado. Pessoalmente acho que a todo momento devemos nos perguntar como está nossa consciência crítica e até que ponto estamos desenvolvendo nossa lucidez espiritual. Só ela nos torna interiormente livres. Parafraseando um poema de Cecília Meireles, podemos dizer: "é essa lucidez interior, chama iluminada de inquieto amor, é ela que nos conduzirá à liberdade, liberdade de voar, voar para onde nos sentimos chamados/as e nos possibilitará a liberdade de pousar aonde o coração grávido de tanto amor nos empurrar".   

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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