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Tempo da criação

Tempo de oração e cuidado com a Criação

               Deste 1º de setembro até o próximo 04 de outubro, festa de São Francisco de Assis, o papa Francisco propõe que nos consagremos especialmente à oração e ao cuidado com a criação. Consagrar o 1º de setembro à criação foi iniciativa do patriarca ortodoxo e com o apoio do papa e a proposta da Igreja Católica se inserir nesta iniciativa, atualmente cristãos do Oriente e do Ocidente vivem esta experiência de espiritualidade ecológica. 

Apesar de ter sido assumido pelo papa Francisco já há cinco anos, parece que esta iniciativa ainda não entrou muito no calendário das nossas paróquias e dioceses. Em cinco anos, o mundo sofreu diversas mudanças e a crise ecológica ainda se agravou mais. Por isso, no domingo 25 de maio deste ano, o papa propôs que, agora, cinco anos depois e à luz do que estamos vivendo neste tempo de pandemia, pudéssemos reler a Laudato si e tentar aplicá-la à nossa realidade. 

Grupos oriundos de vários continentes e ligados às causas sociais se unem na Ágora dos/das Habitantes da Terra e pedem à ONU para proclamar as vacinas contra os vírus como “bens comuns da humanidade”, que não podem ser vendidos ou comercializados. A vida não tem preço. Para que este cuidado com a vida possa se tornar prioridade, na lista dos bens comuns da humanidade entram também a água, o ar, a terra e o acesso à educação básica e à saúde, portanto a valorização dos sistemas de saúde pública, como o SUS. 

O grupo da Secretaria Ecumênica que me assessora e com o qual trabalho em um permanente diálogo intergeracional está redigindo e propondo esquemas de orações macro-ecumênicas para este tempo da criação. Seriam quatro orações para as quatro semanas. Não tanto como fórmula de oração e sim como método que nos ajude a orar em comunhão mais explícita com o universo. 

 É importante criarmos verdadeiramente uma sensibilidade nova que una nossa forma de expressar a fé e a nossa devoção ao cuidado com a terra, a água e toda a natureza. E isso deverá se expressar principalmente na eucaristia, que o papa chama de "centro vital do universo" e explica: "Mesmo quando a celebração tem lugar no pequeno altar de uma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo"(L.S. 236). 

A celebração da eucaristia deve ser sinal e profecia da partilha como princípio e modo de organizar o mundo. O cuidado com a ecologia ambiental tem de incluir a ecologia social. Sem justiça sócio-econômica, não pode haver verdadeiro e fecundo cuidado com a natureza. O Sínodo da Amazônia insistiu que a Ecologia Integral faz parte do próprio núcleo da missão da Igreja. No século III, Santo Irineu de Lyon afirmava: “A glória de Deus é a vida do ser humano”. Monsenhor Oscar Romero traduziu isso ao dizer: “A glória de Deus é a libertação do oprimido”. Os salmos estendem este louvor e este cuidado não somente aos humanos mas a todo o universo: “Os céus narram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 19, 2). 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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