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Texto, quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Assunção é uma cidade antiga (1537) às margens do rio Paraguai e com um centro que ainda funciona - o pessoal se reúne em bares, brinca nas praças públicas e resiste (vamos ver até quando) à cultura dos shoppings centers que aqui também começam a invadir tudo. Hoje, comecei o dia participando de um encontro da Frente Guaçu, uma organização super partidária (guaçu em guarani significa ampla) que organiza a resistência ao golpe que está sendo violento e truculento. Lá estava o presidente Lugo que me acolheu com muito carinho e me apresentou aos políticos como companheiro internacionalista. Depois fui participar do fórum social paraguaio que se reuniu ontem e hoje no parque em frente ao congresso. Passei pela tenda dos índios. Não fiquei porque não compreendo a língua guarani, embora a ache linda e musical. Passei pela tenda dos jovens e eram centenas, a maioria com camiseta dizendo que o Paraguai resiste ao golpe. Fui mesmo para a tenda dos movimentos sociais onde falei cinco minutos e ajudei o pessoal a ver que a resistência deles é importante para toda a América Latina. O presidente Lugo me convidou para almoçar com ele e mais alguns companheiros que vieram de diversos países latino-americanos. Do Brasil, éramos Walter Pomar que foi coordenador das relações internacionais do PT, Pedro, jornalista do Brasil de Fato e eu. Além de nós havia três argentinos e um venezuelano, além de dois ex-ministros de Lugo. A conversa foi boa e profunda. 

À tarde, houve uma marcha de movimentos sociais e de participantes do fórum. O calor era tal que eu não fui. Cheguei no final e participei da fala do presidente que foi muito boa. 

As praças daqui são cheias de ipês roxos e cor de rosa que nessa época estão todos floridos e dão um espetáculo belo como símbolo de resistência - os ipês floridos resistem à seca - e os paraguaios conscientes resistem a essa política que em tantos séculos ainda não mudou e discrimina o pobre. Uma moça que me levou ao fórum como motorista me disse que no dia da concentração para protestar contra o golpe havia atiradores postados nos edifícios mais altos - ela viu sinais deles - e por isso o presidente dispersou a manifestação para não haver mortos nem feridos - isso coincide com o que ele tinha me dito ontem. 

Chegou minha passagem para Caracas nesse final de semana onde devo assessorar um encontro ecumênico sobre bolivarianismo. Viagem muito cansativa. Vamos ver se consigo força e ainda escrevo um texto novo. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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