Para o mundo viver em paz
O mais trágico é que muitos desses homens cujo esporte é matar ou provocar a morte de milhares de pessoas se dizem cristãos e não ligam a fé com a solidariedade e a defesa da vida. Ao contrário, fomentam uma cultura de intolerância e violência. Meios de comunicação transmitem a ideia de que a pena de morte é a única solução para os problemas do Brasil.
Em Nova Dehli, na Índia, nessa segunda-feira e durante toda a semana, milhões de pessoas visitam o túmulo do Mahatma Gandhi. Reverenciam o profeta da paz e da não violência, assassinado por um fanático religioso hindu, no dia 30 de janeiro de 1948. Ele ensinava que o único remédio para a violência é não entrar na mesma lógica. Insistia na não violência ativa e no caminho da verdade. Mais de 70 anos depois, a humanidade ainda não aprendeu. Nos anos 60, nos Estados Unidos, o pastor Martin-Luther King perdeu a vida. No entanto, através da não violência ativa, venceu a luta contra a discriminação racial. No Brasil, Dom Helder Camara consagrou sua vida à luta pacífica pela justiça e pela paz.
No livro “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire afirma que estamos mal porque seguimos um mau modelo de sociedade e não nos damos conta de que é um caminho equivocado. As pessoas são orientadas a competir. Vencer na vida passa a significar exercer um domínio sobre outros. A cada dia, a Mãe Terra, explorada e ameaçada, grita de dor. E a humanidade segue sua luta por paz. No entanto, como imaginar que pode ter paz um mundo no qual um pequeno grupo de pessoas privilegiadas possui 90% dos bens disponíveis para todos e o resto, mais de 80% da população da terra tem de viver com quase nada?
O Capitalismo mundial é uma iniquidade, responsável pela morte de milhões e pela infelicidade de povos inteiros. Como isso não se faz impunemente, o sistema se protege com imensos gastos em armamentos. Não se dá conta de que a única coisa que geraria verdadeira segurança seria a igualdade social. No momento atual, nenhum país em crise busca alternativas para esse modelo de organização social.
O único líder mundial sensível a esse problema parece ser o papa Francisco que convoca para março, em Assis, um encontro com economistas jovens de todo o mundo para pensar como seria uma economia baseada na solidariedade às pessoas e no cuidado com a vida no planeta. As Igrejas cristãs precisam superar a divisão entre fé e vida. Precisam servir ao projeto divino que os evangelhos chamam de “reino de Deus”. Jesus deu sinais do reino ao curar doentes, reconciliar pessoas excluídas com a comunidade e anunciar a libertação de toda pessoa humana. Neste ano, a Conferência dos bispos católicos do Brasil escolheram como tema da Campanha da Fraternidade 2020: Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso. O lema é a palavra do evangelho que diz: "Viu, sentiu compaixão e cuidou dele" (Lc 10,33-34). Assim, a fé cristã nos convida a todos, crentes e não crentes a refletir sobre o significado mais profundo da vida em suas diversas dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica.