Nesses dias, me uno às devoções católicas populares que invocam e pedem uma nova vinda do Espírito Santo - "A nós, descei, Divina Luz..." "Vinde, santo Espírito...". Uno-me também às comunidades que, nessa semana, oram pela unidade das Igrejas cristãs. Mas, principalmente quero me unir ao cosmos em evolução e a toda a natureza agredida e ameaçada de morte, assim como a meus irmãos e irmãs do mundo inteiro, que vivem como dores de parto a ânsia por uma vida nova.
O Brasil, afundado em uma crise social e política como eu nunca havia visto antes, nem na época da ditadura militar (ao menos, o povo não estava tão dividido). Uma América Latina que tentava se libertar, novamente aprisionada pelo império que desmonta pouco a pouco cada projeto belo e libertador que tínhamos. Nesses dias, quem está na cruz é a Venezuela bolivariana. E o mais triste é ver cristãos que se dizem do Espírito, inclusive, irmãos e irmãs pentecostais, mais reacionários e de direita do que se fossem ateus ou descrentes nas maravilhas do Espírito no mundo. Que tristeza.
Qual o segredo de uma fé que se diz cristã e permanece sem antenas de solidariedade organizada em termos de sociedade civil? Rompeu com a encarnação do Verbo Divino? Não crê que Deus se fez carne no subversivo Jesus de Nazaré? Qual a razão pela qual uma Igreja substitui o Espírito por uma hierarquia que crê na lei e não no Espírito? Não diz a própria Escritura que o Espírito é ventania indomável e vento impetuoso de Pentecostes, que nenhuma instituição pode engarrafar? Não escreveu o apóstolo Paulo que "onde estiver o Espírito do Senhor, aí haverá liberdade" (2 Cor 3, 17)? Por que, então, nos deixamos (tantos irmãos que se dizem ministros de Deus e, muitas vezes, eu mesmo) nos deixamos inchar pelo orgulho da vaidade e pela ilusão do poder?
Que fome, que ânsia e necessidade vital do Espírito que ilumina tudo o que é escuro, cura o doente, aquece o frio e endireita o que entortou. "Envia o teu Espírito, Deus Amor, e renovarás a face da terra" (Salmo 104, 30). "Sem o teu Espírito, nada há no ser humano, nada de inocente e verdadeiro" (Sequência de Pentecostes). Vem sobre nós, como vento suave a refrescar nosso calor, a saciar nossa sede, a transformar nosso coração de pedra em coração de carne (Ez 36). Faze de nós tendas vivas de tua moradia e dá-nos a graça de reconhecer a tua ação uns nos outros.
Dá-me a graça de celebrar essa festa de Pentecostes podendo verdadeiramente acreditar e contemplar aquilo que, na Bíblia, disse o livro da Sabedoria (Sb 1, 7) e que, desde os séculos antigos, a Igreja faz as comunidades cantarem na procissão de entrada da missa desse domingo: "O Espírito do Senhor, o universo todo encheu. Tudo abarca em seu saber, tudo enlaça em seu amor, aleluia, aleluia, aleluia, aleluia".