Blog Aqui vamos conversar, refletir e de certa forma conviver.

A ascensão nossa e do universo com o Cristo

Festa da Ascensão de Jesus:  Mt 28, 16-20

                                                       Ascensão nossa e do universo com o Cristo

                Nesta festa da ascensão de Jesus, o evangelho de Mateus 28, 16 – 20 não contém nenhuma descrição do que comumente se considera ascensão (Jesus sobe ao céu), mas contém três elementos importantes: 

1º - uma revelação nova,

2º  - um envio ou mandato em missão 

e 3º  - uma promessa.

O contexto é estranho porque os onze discípulos voltam para a Galileia, isso é regressam para a sua região, para o meio dos pobres, onde a missão de Jesus tinha começado. O evangelho fala do monte da Galileia, no qual Jesus tinha feito o seu primeiro discurso e nos dado as bem-aventuranças, Ali, Ele  se revela de modo novo, ressuscitado. O evangelho sublinha que apesar de ter ido ao monte que o Senhor lhes indicara, os apóstolos duvidavam. Duvidavam de que? Duvidavam de quem? Se duvidavam, por que, então, estavam ali?

 

A impressão é de que aqueles onze representam a comunidade de Mateus já nos anos 80, ainda atormentada com muitas dúvidas. O evangelho chama aquela comunidade e a nós  para voltarmos às bases e escutarmos de novo Jesus ressuscitado. No texto do Evangelho, lido, hoje, Jesus não se detém sobre as dúvidas dos discípulos. Não diz nenhuma palavra sobre o fato de duvidarem, como se isso não tivesse importância. A fé não se opõe às dúvidas e sim à indiferença e à frieza.  

1 - Jesus lhes faz a revelação: Toda autoridade (exousia) me foi dada (pelo Pai). O termo grego é diferente de poder (doxa). Autoridade é algo mais interno, inerente à pessoa e é em relação. Mais do que poder, um médico tem autoridade em matéria de saúde.  Um militar tem poder. Alguém com força física tem poder. Uma mãe tem autoridade. É em função da autoridade que, Jesus chama os discípulos e discípulas ao compromisso: “Então, se é assim, vão....”.

 

2 – O envio em missão. Quem de nós escutou essa palavra de compromisso? 

No mundo atual, um emprego compromete profissionalmente. Entretanto, no plano social e espiritual, muitas pessoas participam de grupos. Pertencem a coletivos... Dão o seu nome, mas quase sempre, as pessoas dizem: “sou do grupo na medida do possível, ou seja, quando quero, ou melhor quando sinto necessidade”... Não há exatamente adesão de compromisso. Jesus lidou com um grupo frágil, medroso, no qual todos duvidavam dele e do projeto que ele propôs (o reinado divino acontecendo no mundo). No entanto, ele passou por cima de tudo e os mandou como comprometidos. Vão fazer discípulos e discípulas em todas as nações... 

 Há quem entenda isso como missão religiosa, como se Jesus tivesse dito: "vão e  conquistem todo mundo para a Igreja Católica, ou para Igrejas evangélicas". Se fosse assim, Jesus não teria proposto uma missão e sim uma campanha de proselitismo e de conquista colonialista, como tantas vezes, na história e até hoje, as Igrejas têm feito. É importante repetir: Jesus não fundou religião, nem criou Igreja. Os estudiosos e estudiosas dizem que historicamente Jesus teria reunido um grupo e, a partir deste grupo, suscitado um movimento profético com o objetivo de anunciar e testemunhar que o projeto divino para o mundo estava chegando. Deste movimento inicial, surgiram as comunidades que na década de 50 (vinte anos depois da morte de Jesus), o apóstolo Paulo chamou de Igrejas. Estas Igrejas locais se organizaram como grupos, dentro das sinagogas judaicas. A religião não era cristã. Era judaica. Somente a partir dos anos 80, isso é, mais ou menos, na época em que este evangelho de hoje foi escrito, as Igrejas (locais) se tornaram autônomas em relação às sinagogas e, pouco a pouco, passaram a ser vistas como o que hoje chamamos de Cristianismo. 

 A Igreja tem sentido se conseguir se colocar como instrumento do projeto maior: o reinado divino no mundo, ou seja, tornar o mundo uma terra de amor compassivo, justiça solidária, libertação de todos/as e cuidado universal. Jesus fala em batizar. Para Jesus, o batismo tinha sido o mergulho no Jordão nos tempos de João Batista. E como o grego batizar significa mergulhar, o que ele está falando não é de apenas um rito. O que Jesus manda aos onze é: mergulhem as pessoas de todas as nações e culturas no projeto do reino de Deus. Afinal, era isso que Ele, Jesus, tinha ensinado e trazido para o mundo. “Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho mandado”. Este é o envio e aí vem a promessa: “Estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos”

 

3 – A promessa. 

O evangelho de Mateus começa com o Anjo dizendo a José: O menino que vai nascer se chamará Emanuel, que significa Deus conosco.  Neste último texto do evangelho que escutamos, hoje, é o próprio Jesus que faz a mesma promessa do anjo no início do evangelho. Só que agora é ele mesmo quem afirma:  "Eu estou com vocês todos os dias até o fim do mundo", isso é: Eu serei para vocês e com vocês Emanuel. Através do Espírito, estou em vocês. 

A Igreja continua usando esta imagem antiga e espacial de que Jesus subiu ao céu. O evangelho de Mateus não usa a palavra "Ascenção" que é própria de Lucas. Nas ciências atuais, como a Cosmologia e a Física Quântica, muitos estudos têm confirmado: o universo é semelhante a um grande organismo vivo que a cada instante evolui e à medida que se expande, cresce e este crescimento leva ao mesmo tempo a uma convergência. Já nos anos 50, Theillard de Chardin chamava esse ponto de convergência “Ponto Ômega”. E via nisso o que o apóstolo Paulo chama de “Cristo cósmico”, presença divina que, através do Espírito fecunda de amor o universo e dá vitória a todos os nossos projetos humanos. 

 

                   Nesta semana, vamos curtir esta esperança de nos deixar invadir totalmente pela presença do Espírito que celebramos no próximo domingo em Pentecostes. Vamos nos preparar para esta festa, nos unindo pela oração à Semana de orações pela Unidade dos cristãos. Conforme o evangelho de João, antes da Páscoa, Jesus fazia sinais para que, ao verem os sinais de amor, as pessoas pudessem crer. Depois de sua morte e ressurreição, o sinal que Ele deixa e que vai substituir os sinais de amor que Ele fez na terra, é a unidade visível dos seus discípulos e discípulas. Por isso, a unidade das Igrejas é tão importante para cumprirmos o testemunho pascal e podermos dizer: Verdadeiramente, Jesus ressuscitou, Aleluia!

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

Informações