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A festa a qual todos somos convidados/as

Para que uma palavra como essa possa ser boa notícia para nós, na realidade atual, precisamos compreender algumas coisas do contexto histórico e social no qual a história surgiu.

1 – Muitos exegetas sustentam que Jesus não inventava suas histórias. Tirava as parábolas que contavam dos fatos que aconteciam no dia a dia da vida ou que o povo contava como narrativa cultural conhecida. Portanto, possivelmente, essa história pode ter acontecido e dela Jesus quis tirar uma palavra de Deus para seus discípulos e discípulas.

2 – Ele adaptou a história para criticar os sacerdotes, isso é, a elite religiosa de seu tempo. Mas, o que ele diz pode servir para a elite religiosa de todos os tempos e de qualquer religião que seja.

Para mim a boa notícia é que o projeto de Deus para o mundo (o reino dos céus como chama Mateus) é como uma festa, um banquete de muita comida, bebida, música e alegria... Jesus não compara o reino com um culto nem com uma festa litúrgica. É uma festa de casamento. Um rei que prepara o casamento do seu filho. Hoje, essa história que compara Deus com um rei autoritário com muitos servos e muitas posses e que convida os nobres para o banquete só se compreende se de fato foi um fato ocorrido e do qual Jesus tirou a lição que queria tirar. Os convidados não quiseram vir – não acolheram o convite. Uns não levaram a sério. Outros tinham outros interesses... O homem mandou encher a sala da festa de toda e qualquer pessoa que os servos encontrassem no caminho. Jesus havia dito na parábola que ouvimos no domingo passado que muitas vezes, o filho que diz ao pai “Não vou”  acaba indo e o que diz “Vou”, muitas vezes, na prática acaba não indo... No sermão da montanha ele havia dito: Quem acolhe o reino não é quem diz Senhor, Senhor, mas quem faz a vontade do Pai (Mt 7).

Hoje, quantas vezes, os mais religiosos e sacerdotes de todas as religiões cumprem as leis e seguem ritos, mas se negam a se converter profundamente ao projeto de amor e inclusão que Deus tem para toda a humanidade (Vão pelos caminhos até o fim dos caminhos – o texto grego é mal traduzido quando diz encruzilhada. Trata-se dos confins. É o que o papa Francisco chama “Igreja em saída”, para fora, para o outro, para o diferente, para o pessoal que não é o nosso).

Viver a fé é acolher esse chamado de Deus para fazer da vida essa festa de alegria e amor que o mundo deve ser (mesmo no meio de todas as lutas e sofrimentos) e acolher as pessoas que vêm ao nosso encontro como irmãos e irmãs que, como nós, foram acolhidos pelo amor gratuito do Pai maternal. Penso que o carinho e o amor com o qual nos tratamos e a solidariedade social que devemos viver como cultura, como princípio de vida e a opção revolucionária de transformar esse mundo é o modo concreto que temos de acolher o convite e começarmos a viver a vida como  festa do reinado divino no mundo. 

 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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