A civilização da Ecologia Integral
Neste domingo, 31 de outubro, a ONU inaugurou a Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas (COP 26) em Glasgow, Escócia. Poucos dias antes, tinha concluído a primeira parte da 15ª Conferência Mundial sobre a Diversidade Biológica (COP 15).
Neste primeiro evento, por conta da segurança sanitária, os representantes de mais de cem países tiveram de se reunir, uma parte presencialmente em Kunming, cidade do sudoeste da China e a maior parte dos/das participantes de forma virtual. Da segunda-feira 11 à sexta, 15 de outubro, se reuniram os grupos de trabalho e concluíram pela publicação de uma “Declaração de Kunming” Este documento mostra um consenso sobre a urgência de salvar a biodiversidade no mundo. Para isso, propõe que, deste mês de novembro até 2030, a ONU consiga colocar sob a proteção a proteção internacional 30% das áreas de floresta e de biomas ameaçados, como também se intensifique a proteção dos oceanos. Em Kunming, foram representantes de 72 países que concordaram em priorizar a educação para uma “civilização ecológica”. Xi Jinping, presidente da China, anunciou a criação de um “fundo Kunming”. Isso significa a contribuição de 1, 5 bilhões de yuans (mais de 220 milhões de dólares) para apoiar a conservação da biodiversidade nos países considerados “em desenvolvimento”. Esse material será rediscutido e afunilado em mais uma sessão de trabalho em Genebra, durante o mês de janeiro de 2022, antes do documento final ser votado e decidido em seus detalhes, provavelmente em abril na China, quando se encerrará oficialmente a COP 15.
Quem acompanha as notícias da imprensa sabe que o desafio maior é como conciliar as resoluções necessárias para salvar a biodiversidade com os interesses de lucro das empresas e dos governos que continuam considerando a natureza como matéria prima e como mercadoria. Representantes de grandes empresas multinacionais enviaram ao grupo reunido em Kuning uma carta na qual afirmavam: “Devemos reconhecer a amplidão da crise ligada à destruição da natureza. A natureza é essencial na luta contra as mudanças climáticas. Não pode haver comércio nem lucro em um planeta morto”.
Cada vez mais, fica mais claro para a humanidade que em um sistema social e econômico que coloca o lucro em primeiro lugar não existe possibilidade nem de biodiversidade, nem de civilização ecológica. Desde anos, o povo pobre que se reúne junto com as pastorais e movimentos sociais no Grito dos Excluídos tem como palavra de ordem: A vida em primeiro lugar. Só é possível ver a terra como “casa comum” se a prioridade máxima de toda atividade humana passa a ser a vida. Quanto mais nos inserimos nesse caminho mais percebemos que não é possível salvar a biodiversidade em um mundo de injustiças sociais. Por isso, o melhor é falarmos em sociobiodiversidade, ou seja, um olhar que reúne os ecossistemas da natureza com a luta pacífica pela justiça social e o respeito às diversidades de gêneros, raças, culturas e religiões, além da justiça construída a partir dos direitos da classe trabalhadora e do povo excluído.
Nos Andes, a cultura ketchua mantém até hoje a noção do Pachacuti. Conforme essa visão, a colonização colocou o mundo de cabeça para baixo. É preciso reinverter a ordem do mundo de modo que se recomponha a harmonia entre os seres humanos e a natureza e os Espíritos das montanhas. Isso é o Pachacuti.
A Carta da Terra, documento aprovado pela UNESCO, como uma carta dos direitos da Terra, em um parágrafo citado pelo papa Franscisco na encíclica Laudato si, afirma: “O destino comum nos obriga a procurar um novo início. Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar de uma nova reverência face à vida., pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida” (LS 207).