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A proclamação do Pentecostes de Jesus

A proclamação libertadora do Pentecostes de Jesus

                    Neste 3º domingo comum (do ano C) escutamos como proclamação do evangelho o prólogo de Lucas (1, 1- 4) e como Jesus anuncia a sua missão em um sábado, na sinagoga de Nazaré, onde ele tinha sido criado (4, 14- 21). O prólogo é dedicado a um personagem talvez simbólico chamado Teófilo (amante de Deus) que pode ser toda pessoa que se sente chamada a ser discípula de Jesus. Em poucas palavras, fica claro que o evangelho se baseia no testemunho de pessoas que vivem a fé e que o objetivo do escrever o evangelho é enraizar a pessoa que escuta no mesmo testemunho. É muito importante retomarmos a centralidade do testemunho, ou seja, da experiência pessoal e comunitária, como base da transmissão da fé. É a partir disso, que o evangelho conta o início da missão de Jesus na Galileia. 

No domingo passado, escutamos, conforme o quarto evangelho, o início dos sinais que Jesus fez. Hoje, escutamos o mesmo princípio, a partir da experiência da comunidade de Lucas. No quarto evangelho, vimos Jesus, discretamente, trazer a alegria para uma festa de casamento e tornar aquela festa parábola do projeto divino para o mundo. Hoje, o evangelho mostra Jesus em um sábado comum, indo a sinagoga, como qualquer judeu fiel e, como leigo, fazendo livremente a 2ª leitura que era comumente tirada de um profeta. Jesus escolhe o texto da vocação de um discípulo do profeta Isaías. Nesse texto (Is 61, 1- 2), depois do exílio da Babilônia, o profeta contava que Deus o chamou e lhe encheu do seu Espírito para anunciar a libertação do cativeiro, a cura das doenças e a liberdade de tudo o que nos aprisiona. Conforme este evangelho, Jesus juntou a esse texto um verso do mesmo profeta no capítulo 58 e proclamou um ano do jubileu, ou seja, um novo tempo de anistia, perdão das dívidas e libertação de todo tipo de escravidão. Tendo acabado de fazer a leitura, Jesus fecha o livro e proclama: “Hoje, se cumpre esta Palavra que vocês acabam de ouvir”. 

Em um comentário desse texto, Gustavo Gutierrez o considera como o relato do Pentecostes de Jesus. Assim como o Espírito de Deus vai descer sobre os discípulos e discípulas reunidos em Jerusalém para a festa de Pentecostes (At 2), Jesus também teve o seu Pentecostes que abriu a sua missão na Galileia. Este sopro divino que veio sobre ele no batismo, o consagrou e o enviou para ser profeta da libertação. 

Desde o começo da caminhada da Igreja dos pobres, no final dos anos 1960 e começo da década de 1970, essa passagem do evangelho era como característica da missão assumida pelas Igrejas (dioceses) da caminhada libertadora. Na 2ª conferência dos bispos latino-americanos em Medellín (1968), foi baseado neste texto que os bispos escreveram: “Que se apresente cada vez mais nítido, na América Latina, o rosto de uma Igreja autenticamente pobre, missionária e pascal, desligada de todo o poder temporal e corajosamente comprometida na libertação de todo o ser humano e de toda a humanidade” (Medellin. 5, 15 a).

Hoje, não sabemos quantos de nossos bispos e padres da Igreja Católica, assim como ministros e pastores evangélicos, aceitariam assinar essa declaração que foi assumida por todos, há mais de 50 anos, em Medellín. De fato, pelo fato de Jesus ter escolhido como texto para ler o profeta que anunciava a restauração do povo depois do cativeiro, fica cada vez mais difícil explicar, como tentam alguns ministros que a libertação que ele trouxe é somente no plano espiritual e o perdão é a libertação interior dos próprios pecados.  Ele nos diz claramente que nele o Espírito de Deus veio torná-lo um pentecostal (cheio do Espírito) e carismático, mas cuja expressão disso será a dedicação ao serviço libertador do povo. Assim, Jesus nos ensina a ser pentecostais e carismáticos como pessoas radicalmente comprometidas com a libertação integral das pessoas e comunidades oprimidas. Quanto mais pentecostais, mais devemos manifestar isso sendo social e politicamente revolucionários/as. Certamente, hoje ainda, esse é o maior desafio das Igrejas cristãs: unirem a dimensão carismática (e pentecostal) da fé com a dimensão social e política transformadora.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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