Estamos completando dez anos da Conferência dos Bispos em Aparecida. Desde então, na Igreja Católica, todos falam em missão. Na hora de definir a missão, falam em ser discípulos missionários de Jesus e constituir uma Igreja para fora, ou como diz o papa Francisco: uma Igreja em saída.
O problema que sinto ao ler os textos preparatórios para esses encontros ou os textos conclusivos dos encontros já ocorridos é que nem sempre é claro a missão para que.... Define-se muito o como da missão e até o que é, mas parece se dar menos clareza ao para que. E fico com a impressão de que se trata de uma missão religiosa. Compreende-se evangelizar como anunciar o evangelho e compreende-se evangelho como a mensagem da Igreja.
Enquanto isso não for suficientemente esclarecido, se separa a missão da profecia e a Igreja do reino. Na realidade, o evangelho é a boa notícia do reino de Deus. Se é assim, evangelizar é fazer o que Jesus fez: O Espírito de Deus desceu sobre mim e me mandou: anunciar a boa notícia aos pobres. Que boa notícia? A de que os pobres vão deixar de ser oprimidos. Vão ser libertados, os doentes vão ser curados, os presos vão ser soltos e todos vão viver um tempo de liberdade dado por Deus (Lucas 4, 16 - 21). Mas, qual desses documentos falam disso? Nenhum. Acabei de ler agora um que tem 56 páginas. Contei e descobri que a palavra pobre não aparece nenhuma vez. E imaginem que é um documento aberto e que propõe uma Igreja na linha do papa Francisco...
Vou a assembleias de pastoral de dioceses e de arquidioceses nas quais as pastorais sociais não são chamadas e não são consideradas como parte. A Igreja ainda é considerada como meta de si mesma e não como a serviço do reino de Deus.
Há 50 anos, em Medellin na Colômbia, os bispos latino-americanos escreveram que a Igreja deve ser um serviço ao povo e serviço libertador. Será que conseguiremos um dia reconstituir essa consciência e esse caminho?