Como minha obsessão é falar a linguagem da fé de forma que possa ser acolhida e compreendida pela humanidade de hoje, não sei se essa formulação de Deus como Trindade ajuda muito. Creio que essa festa que celebramos nesse domingo (Festa da Santíssima Trindade) foi criada na Idade Média para combater heresias e deixar claro a todos a fé cristã de que Deus é um Só em três pessoas. Leonardo (Boff) me ajudou muito quando em 1986 preparava o encontro das CEBs em Trindade (GO) com a reflexão: A Santíssima Trindade é a melhor comunidade. Ali recebemos uma boa tradução dessa fé: Deus é Comunhão. De toda forma, a expressão disso é pobre. Mesmo essa forma de falar ainda parece manter uma imagem da Divindade externa a nós e mesmo fora ou independente de nós e do universo. O que aprendo na Bíblia é que no fogo da sarça ardente, a voz que Moisés escutou dizia: EU SOU QUEM SEREI COM VOCÊS, ou mesmo se poderia traduzir: EU SOU QUEM SEREI EM VOCÊS. Então essa energia amorosa da VIDA e do AMOR que se manifesta em nós nos faz ir além de todos os dualismos. Fomos habituados a pensar a vida e a realidade em termos duais. Ou isso ou aquilo. Pensar Deus como Trindade talvez nos ajudasse a pensar o mistério da própria vida como trinitário. O masculino, o feminino e a síntese disso em mim e em cada pessoa - a dimensão paternal, filial e esponsal - tudo isso dentro de nós e também como mistério de amor presente no universo. O hinduísmo fala do mistério como Bhrama, Vishnu e Shiva, Criação, Preservação e Transformação. A teologia latino-americana nos chama a pensar esse mistério divino como Libertação. Essa dimensão concretiza o que sempre o Cristianismo afirmou como "mistério de salvação". Não se trata apenas de salvação DE... (do pecado), mas de salvação PARA, ou seja, planificação da vida, aquilo que agora os índios na América Latina nos ensinam a chamar de Bem Viver. Deus é Bem-viver.
Onde descobri-lo e como testemunhá-lo presente nos caminhos de libertação nem sempre claros e algumas vezes passíveis de diversas leituras e interpretações?
Onde descobri-lo e como testemunhá-lo presente nos caminhos de libertação nem sempre claros e algumas vezes passíveis de diversas leituras e interpretações?
Pessoalmente, o descubro no fogo de amor que mesmo embaixo de muitas cinzas permanece vivo e queimando na esperança da vida transformada e na teimosia de ir nos transformando por dentro para sermos parábolas e ensaios de um mundo renovado. "Deus é Amor - solidariedade - e quem vive esse amor (agapé - amor solidariedade), vive em Deus e Deus vive nele ou nela.