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abrir os olhos para o hoje do mundo

                   O evangelho desse domingo insiste: Vigiai e compara o reino de Deus e nossa missão com a de empregados que ficam encarregados de cuidar da casa porque o patrão está ausente. De fato, hoje no mundo, não é difícil perceber que a realidade é como se Deus tivesse se ausentado e deixado tudo nas mãos da gente. Antigamente, se lia esse evangelho como uma ameaça para a vida individual. O Senhor que chegará de repente, na hora em que menos se espera, era visto como a morte que pode ocorrer de repente, sem nenhum aviso. Mas, é claro a perspectiva dos evangelhos não era essa de ameaçar ninguém e menos ainda restringir a interpretação da vinda do Senhor à morte individual. 

               A casa da qual devemos tomar conta enquanto o Senhor não aparece e parece ausente é o nosso planeta Terra e é a nossa realidade social e humana. Claro que o mundo atual pode ser destruído pela ação humana, seja que um Trump qualquer acione as bombas nucleares e destruam tudo o que há no mundo, seja que o aquecimento global provocado por esse modelo de desenvolvimento torne inviável a vida no planeta. No entanto, nós que cremos devemos prestar contas ao Senhor pela casa comum que recebemos para cuidar e pela nossa vida, sobre o como e o que fazemos dela. 

           O evangelho nos pede para vigiar. O que é vigiar, hoje? A imagem do porteiro nos esclarece: será manter os olhos abertos sobre a realidade. Não se deixar entorpecer pelo sono nem por nada que nos distraia ou nos aliene dessa realidade. Vigiar é desenvolver o pensamento crítico e a atitude de resistência ao modelo de sociedade que o mundo impõe. Não podemos deixar que o sono induzido pela publicidade e pelas expectativas ilusórias da sociedade seja o nosso patrão. Nós temos de ser patrões do sono. 

         Às vezes, tenho a impressão de que vivo em uma Igreja na qual os ritos e doutrinas se repetem e as comunidades são sempre menos laboratórios de audácia nos quais se buscam caminhos novos. Ninguém tem direito de apoderar-se das chaves e decidir para quem abre e para quem fecha a partir do seu poder pessoal. Não é isso o projeto de Jesus. O sistema atual se baseia no medo. Nós só podemos esperar vigilantes na liberdade total do Espírito. 

      Há um tempo e esse é sempre novo se o tornarmos tempo para escutar as batidas do coração do outro e do mundo, tempo para dar crédito aos sonhos e para plantar as sementes de sonho que Deus nos manda plantar. Tempo para atender ao grito de quem sente na pele o sofrimento - tempo para sentir a respiração da Terra e nos pôr juntos com ela a respirar Amor.  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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