Abya Yala! Genocídio, Resistência e Sobrevivência dos Povos Originários das Américas
Marcelo Barros
Hoje, recebi pelo correio um livro que é uma profecia que se transforma em grito profético e celebração de esperança em forma de livro. Este título Abya Yala remete ao mais antigo nome do continente e significa “terra madura”, ou “terra que floresce”. Vem do povo Kuna, originário do norte da Colômbia, mas hoje foi sancionado por uma assembleia internacional de povos originários para denominar o continente unido na luta contra a colonização que se reinventa com novas fisionomias mas, atualmente, é tão forte e cruel como o era na época da invasão e da primeira conquista.
Este livro, escrito por Marcelo Grondin e Moema Viezzer e publicado de forma muito competente pela Editora Bambual, nos toma pela mão e nos conduz por uma história triste e sangrenta que não poupa nenhum país do continente. O livro reúne o que, um dia, uma possível Comissão Justiça e Verdade revelará em detalhes do banho de sangue e de dor sobre o qual está edificado cada palmo de nossa chamada civilização ocidental.
O prefácio simples e belo do sábio Ailton Krenak abre as portas para compreendermos que ninguém pode dizer: essa história é triste demais e nós já sabemos do seu final. Basta. Não preciso ler. O grande Ailton nos faz ver que se não aceitamos percorrer este caminho e como que colocar nossa rubrica com um Ciente ou consciente em cada página deste grande relato, não conseguiremos formar a barricada da vida e do amor para impedir que essa guerra que ainda hoje está em curso contra os povos originários continue e que sejamos por mais tempo coniventes com esse genocídio que não parou.
O livro de Marcelo Grondin e Moema Viezzer não conta explicitamente, mas deixa transparecer nas entrelinhas de cada página que ambos, desde a juventude, consagram as suas vidas à solidariedade e à causa dos oprimidos que, como afirmava Jon Sobrino em El Salvador continuam sendo “povos crucificados”.
Eu que tive a graça de conhecer Moema Viezzer e me tornar amigo dela já no início dos anos 70 no Recife, já naquela época, aprendia muito com a sua sabedoria de educadora popular e de militante nas melhores causas da humanidade.
Parabéns para a Editora Bambual que, com este livro, revela um trabalho de verdadeira arte editorial. A capa, o formato e todo o trabalho tipográfico e ilustrativo é belo e de incrível bom gosto. É livro para se ler, para se reler, para se consultar e se partilhar como presente. E apesar do assunto tratado ser tão trágico, ninguém vai achá-lo excessivamente pesado, já que se inicia por uma bela citação de poemas andinos, nahuatl (mexicanos) e guaranis. E se conclui por uma proposta de “novo começo”. Ali nos conta uma articulação dos povos originários das Américas e nos recorda que “RESISTIR E SOBREVIVER É REINVENTAR”.
Muito, muito obrigado Marcelo e Moema, muito obrigado, Isabel, editora da Bambual e que Deus, Viracocha, a divindade do sagrado Titicaca, Quetzacoaltl, a Serpente alada dos Mexica que une as fronteiras entre o céu e a terra, assim como Nhanderuvuçu, Jaci e Guaraci dos povos Tupi- Guarani abençoe e ilumine sempre a vocês com este fogo sagrado da Justiça Libertadora. Amém, Axé, Awuerê, Aleluia!
GRONDIN, Marcelo & VIEZZER, Moema, Abya Yala! Genocídio, Resistência e Sobrevivência dos Povos Originários das Américas, Rio de Janeiro, Bambual Editora, 2021.