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Amar como Jesus amou

5º Domingo da Páscoa  C – Jo 13, 31- 35. 

A palavra de ordem é Amar como Jesus amou

 

Neste 5º Domingo da Páscoa no ano C, o evangelho proposto pelo lecionário ecumênico é João 13, 31 a 35. São palavras que Jesus teria dito na última ceia, depois de ter lavado os pés dos discípulos e discípulas e logo após ter anunciado que sairia dali para ser preso e assassinado pelos romanos com o apoio e a cumplicidade dos religiosos do templo de Jerusalém. 

De acordo com o texto, Jesus proferiu essas palavras que escutamos no evangelho de hoje logo depois que Judas saiu para combinar com os religiosos do templo como lhes entregaria o Mestre. O evangelho deixa claro que Jesus sabia que Judas iria traí-lo. Ao dar a Judas o primeiro pedaço de pão molhado, Jesus faz um gesto de carinho e de predileção por ele. Quando alguém está movido por um espírito de ressentimento ou raiva, passa a ver como agressão até um carinho que lhe é feito. Sendo assim,  no lugar de ser tocada pelo amor, a pessoa se endurece mais ainda. O evangelho chega a dizer que, quando Judas recebe aquele gesto carinhoso de Jesus, a energia do mal, ou seja, o diabo, entra nele. Jesus percebe isso e lhe diz: 

- “O que você tem de fazer, faça logo”. 

Como Judas cuidava da bolsa comum, os discípulos pensaram que Jesus estivesse se referindo a alguma coisa de economia. 

E aí começa o texto do evangelho que lemos hoje: Assim que Judas sai da sala, Jesus afirma: “Agora, o Filho do Homem foi glorificado e a glória de Deus se manifestou nele”. É impressionante vermos que Jesus vê a glória de Deus se manifestar através da traição de um discípulo e no complô armado para a sua condenação. O que significa isso? O que seria essa glória de Deus? 

Conforme o evangelho de João, durante a realização de sua missão, Jesus fez vários sinais de amor, como transformar a água em vinho, curar o filho ou servo de um oficial romano, repartir pão para uma multidão faminta, curar um cego de nascença e restituir vida a Lázaro. 

Esses gestos de amor que Jesus fez foram sinais da glória, isso é, sinais do amor de Deus pela humanidade. Agora, ao afirmar que naquele momento, a glória de Deus começava a se manifestar, Jesus está dizendo que quer fazer da sua própria morte sinal maior da glória de Deus. Não porque quisesse morrer – Jesus não era masoquista -, ou pensasse que Deus queria que ele morresse. O Deus da vida não é sádico. A verdadeira razão para Jesus fazer isso é revelar que o amor é maior do que a morte. O amor prevalece sobre o ódio e sobre o poder do mundo que mata. É esse amor que o leva a enfrentar o martírio. É esse amor que Jesus quer passar à sua comunidade. Quer que a sua comunidade viva esse amor, não só naquele momento, mas sempre. Por isso, dá aos discípulos e discípulas um novo mandamento: “Amai-vos uns aos outros, umas às outras, como Eu vos amo”. 

Nessa palavra, há dois aspectos importantes: O primeiro é que Jesus faz do amor uma palavra de ordem: uma bandeira de vida e de luta. E segundo: Para Jesus, a vida regida por esse amor é a única forma de se viver a intimidade de Deus. 

Antes se buscava a intimidade de Deus na religião do templo e nas leis morais. Agora, a intimidade com Deus pode ser buscada mais profundamente na prática do Amor como forma de viver.  


Alguém pode perguntar como o amor pode ser mandamento. Como se pode mandar alguém amar? Comumente, se compreende o mandamento do amor como dirigido a cada pessoa, de forma individual. É claro que cada um/cada uma de nós é chamado (a) a viver esse caminho de amor, mas como caminho comunitário. O mandamento tem implicação na vida de cada pessoa. No entanto, a palavra é dirigida como proposta às comunidades. Jesus fala em vós: “amai-vos” e não em tu. São as comunidade que devem ser as tendas nas quais esse amor se realiza e se expressa. Aí, novamente, podemos ver a figura de Judas como simbólica. Ele trai Jesus ao tomar um caminho individualista, à margem da comunidade e entrega Jesus ao poder dos sacerdotes e religiosos do templo.  

Podemos ver Judas como figura simbólica de todo discípulo que trai o evangelho, aprisionando-o ao poder religioso do templo. Cada vez que aprisionamos Jesus na religião do culto e das normas, de certa forma, agimos como Judas. 

Hoje, quantos padres e pastores fazem isso? Será que nós mesmos, de vez em quando, não caímos na tentação de nos apropriar do evangelho, a boa nova do reinado divino que Jesus trouxe e o reduzirmos ao poder da estrutura religiosa, seja católica, seja anglicana, batista, pentecostal, ou seja lá qual seja? 

De fato, o que Jesus diz é que se as comunidades que querem pertencer a ele desejarem mesmo continuar a sua missão, o fundamento de tudo é amar. Amar não apenas como sentimento e como emoção e sim como princípio organizador da vida, critério e direção que damos à nossa vida afetiva, ao nosso estilo de vida, tanto no plano pessoal, como no nível social e político. 

Os evangelhos sinóticos dizem que Jesus retoma o mandamento do Livro do Levítico e ensina que o maior mandamento é unir o amor a Deus ao amor ao próximo, como a si mesmo. Agora, o evangelho de hoje diz que Jesus nos pede para amarmos uns  aos outros (umas às outras), como Deus e Jesus nos amam. Amar com o próprio amor divino em nós. Possibilitar que o nosso modo de amar seja sinal e manifestação do amor de Deus em nós e através de nós. O biólogo chileno Umberto Maturana ensina que o ser humano é biologicamente nascido pelo amor e condicionado para amar. Quem não ama adoece. Nesse mundo, dominado pelo desamor, o amor divino em nós é estrutural e básico, mas precisa se traduzir em expressões sociais e políticas.   

A política para ser verdadeiramente política deve ter como raiz o amor e sua expressão deve ser o cuidado com os mais vulneráveis e vítimas das desigualdades sociais. Quem acolhe o mandamento de Jesus expresso no evangelho de hoje é chamado e chamada a trabalhar para que, em todos os seus níveis, a Política se torne o que, na encíclica Fratelli Tutti, o papa Francisco chama “A melhor Política” (Capítulo 5), no qual ele desenvolve o que denomina “o amor político” (Fratelli Tutti, n. 180- 182), ou seja, a arte do amor coletivo, expresso no cuidado com a justiça social e ecológica. 

 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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