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Amizade, rosto afetuoso de Deus

A amizade, rosto afetuoso da Divindade

             Em todas as culturas humanas e no decorrer dos tempos, o Espírito Divino tem se manifestado de múltiplas formas e sob as mais diversas imagens. Nas mais diversas tradições espirituais, as pessoas adoram a Deus como Pai, como Mãe, como criador, como libertador e assim por diante. Entre todas as imagens através das quais, o amor divino se manifesta em nossas vidas, creio que a Amizade é uma das mais profundas e instigantes. 

Na cultura vigente, valorizamos muito a família, como sagrada e o amor conjugal como sacramento divino. E parece que percebemos menos o caráter sagrado da amizade. Há pessoas que confundem amizade com qualquer forma de coleguismo, companheirismo e bom relacionamento. 

 Quando, no final dos anos 80, pela primeira vez, fui a uma aldeia bororo, desde o primeiro dia, estabeleci um bom relacionamento com um dos mais velhos da aldeia. Umero era o seu nome. Gostava de ouvi-lo contar as histórias de quando ele era jovem e seu povo ainda não tinha tantos contatos com os brancos. Gostava de ouvi-lo dizer como passava aos mais jovens os conhecimentos antigos. E tinha a impressão de que ele gostava de conversar comigo. Um dia, marcamos de nos encontrar no dia seguinte. E ele me perguntou: Onde nos encontramos? E eu naturalmente respondi: - Pode ser na sua casa? Ele me olhou nos olhos e me respondeu de modo muito simples:  - Quando eu e você nos tornarmos amigos, eu convido você à minha casa. 

Para mim, nós já éramos amigos. Para ele, a amizade precisa de passar pela prova do tempo, da escolha de uma predileção que cresce lentamente. 

É como dizia o Pequeno Príncipe de St Exupery: “Os homens querem comprar tudo em lojas. Como não há lojas de amigo, as pessoas não sabem mais ser amigas”. 

De fato, na espiritualidade cristã da Idade Média, monges santos como Elredo de Rievaulx desenvolveu uma Espiritualidade da Amizade. Ele ensinava: Irmãos, temos de ser de todo mundo. Amigos, a gente pode e deve escolher e tem de escolher bem. Na sua época, em alguns ambientes cristãos, as pessoas se faziam diante do altar um juramento de amizade que era tido como um rito sacramental e ao qual se devia ser fiel por toda a vida. 

Em meio às lutas da vida e a todo o caminho percorrido, agradeço a Deus os amigos e amigas que tenho e fico muito feliz de poder ver em cada um deles e delas o rosto afetuoso da Divindade. Agradeço tudo o que, no decorrer dos anos, sempre recebo deles/as. Peço a Deus a graça de poder também ser para eles e elas alguém que testemunhe  o amor divino. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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