Estou passando em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte e soube que nesse final de semana vai acontecer nessa cidade a Virada Cultural. Nessa ocasião, um grupo ia mostrar uma peça ou espetáculo ou evento artístico que era Rainha Travesti ou parece que chamaram de "Nossa Senhora dos Travestis" . O evento foi censurado pela prefeitura e pela autoridade maior da arquidiocese de Belo Horizonte. Não quero criar problemas com a hierarquia, mas me sinto obrigado como irmão a tornar pública a seguinte declaração que publico aqui.
(Não conheço ninguém da tal peça e nem sei como mandar a eles/elas essa mensagem, mas assim mesmo escrevo. Se alguém que ler tiver como fizer essa mensagem chegar ao grupo, agradeço o favor de enviar)
Aos irmãos e irmãs, companheiros
da Academia Transliterária de Belo Horizonte,
Para quem nao me conhece, sou monge beneditino e ainda aos 74, estudante de Bíblia e Teologia Espiritual.
Acabo de saber que uma peça ou evento artístico chamado Travesti Rainha ou Nossa Senhora dos Travestis foi censurado em nome de Deus e da religião.
Acredito em um Deus que é Amor e em Jesus que nos ensinou que o Pai Amoroso se identifica com os pequeninos e os marginalizados da sociedade do ódio e da exclusão. Peço a Deus em minha oração que um dia os pastores cristãos se situem não como poderosos ao lado dos poderosos do mundo e sim como irmãos e servidores de todos e se solidarizem aos travestis e até fiquem contentes quando alguém chamar Maria, mãe de Jesus de "Nossa Senhora dos Travestis". A nota da Academia Transliterária afirma que a peça nada tem a ver com religião nem com Maria, mãe de Jesus. E se tivesse? De acordo com a declaração, esses queridos irmãos e irmãs que criaram a peça não pensaram em Maria, mãe de Jesus quando falaram em "Nossa Senhora dos Travestis". Apenas pediram emprestado um título que os católicos gostam de lhe dar (Nossa Senhora) para mostrar os travestis como pessoas constituídas de uma dignidade sagrada que nenhuma palavra de bispo, padre ou eclesiástico poderá retirar deles e delas. Diante disso, o que humildemente gostaria de testemunhar é que o Deus no qual cremos é Amor, é inclusão e está junto com vocês e com todos e todas na luta para reafirmar a dignidade humana de cada pessoa em qualquer situacao que seja. Sei que diante da forma como vocês são tratados por alguns eclesiásticos, nem sempre fica fácil acreditar nisso.
Aceitem, então, o sincero pedido de perdão e o compromisso de solidariedade e amor a vocês de quem sofre com essa realidade tão triste em pleno século XX e em plena Igreja Católica que teria a vocação de ser universal e poderia ser conduzida pela profecia do papa Francisco.
Estou convencido de que, mesmo que vocês, ao bolar a peça, não tenham pensado em Maria Mãe de Jesus, certamente Jesus pensa sempre em vocês e se identifica de tal forma com vocês que se sente contente em emprestar a sua mãe a vocês como Mãe de vocês . Hoje, a vocês e a todos os que vivem no mundo a cruz da missão de resgatar a plena dignidade das pessoas, Jesus afirma o que na cruz disse ao discípulo amado: Filho, eis aí tua mãe... Essa ideia que a Academia Transliterária expressa em sua nota que foi sua intenção de religar as pessoas de coração aberto e na alegria é também a grande meta de Jesus que, segundo o evangelho "morreu para reunir na unidade todos os filhos e filhas de Deus espalhados pelo mundo" (Jo 11, 52). . Sintam-se , então, confortados/as pelo meu carinho de irmão mais velho e de muitos cristãos e cristãs, assim como de pessoas que nos mais diversos caminhos espirituais optam por seguir o caminho do Amor inclusivo e veem Deus em cada um, uma de vocês, como o que há de mais sagrado, muito mais do que qualquer imagem ou símbolo religioso. Em vocês contemplo a presença do Amor Divino e lhes agradeço por resistirem e persistirem nesse caminho. O Amor Crucificado pelo mundo desamoroso está em vocês e com vocês. Vamos continuar juntos e sem nunca descrer que um dia o Amor vencerá. Abraço do irmão Marcelo Barros