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​artigo semanal, quarta feira, 24 de outubro 2012

Por uma nova ONU dos povos

Nesta semana, o mundo inteiro recorda o 24 de outubro de 1945, a carta de fundação da ONU foi publicada. A partir de então, a comunidade das nações contou com essa organização internacional que pouco a pouco instituiu diversos organismos sob seu controle para melhor servir à paz e às relações entre os países. No século XXI, depois das diversas vezes em que o governo dos Estados Unidos e seus aliados desrespeitaram tratados internacionais, como ocorreu na criminosa invasão do Iraque, a ONU parece desprestigiada e sem força. Todos sabem que atualmente o Conselho de Segurança da ONU julga com uma medida quando se trata de países árabes ou africanos e usa critérios menos rígidos com países como Israel e com as potências ocidentais. A ONU não pode continuar aprisionada às superpotências e tem de ser mais verdadeiramente democrática e representativa de um mundo pluralista e diversificado.

Há algumas décadas, na Europa, organizações da sociedade civil iniciaram uma espécie de “ONU dos povos. Essa ideia foi, de certa forma, alargada e concretizada pelos diversos fóruns sociais. Logo depois do 2º Fórum Social Mundial, em 2002, o próprio Kofi Annan, na época, secretário geral da ONU, reconheceu que surgia no mundo um novo sujeito importante nas relações entre os países: a sociedade civil internacional. Diversos organismos como tribunais internacionais de justiça, entidades dedicadas à educação e à saúde e grupos que trabalham pelo diálogo entre as diferentes culturas favorecem esse internacionalismo novo. Na América Latina, em menos de dez anos, a integração entre os países deu passos que nunca tinham sido percorridos desde os tempos da colônia. Esse trabalho de construção da paz a partir da superação de nacionalismos e sectarismos, sejam econômicos, sejam raciais, culturais ou religiosos, se fundamenta em uma nova consciência de sermos todos irmãos e irmãs de uma mesma família humana, membros da comunidade da vida. Na sociedade capitalista, a chamada globalização é um fenômeno de internacionalização das finanças e dos mercados, a serviço de pequenas elites. Mesmo no mundo antes rico da Europa e da América do Norte, tem provocado um aumento descomunal da pobreza. A esse tipo de globalização falsa e excludente, a sociedade civil mais lúcida tem proposto uma nova consciência de mundialidade para superar as fronteiras geográficas e mentais de cada grupo e desenvolver uma cidadania mundial. Nesse caminho, as tradições espirituais podem dar uma contribuição importante. Para os cristãos, o filósofo italiano padre Ernesto Balducci dizia que deveriam ser o que dizia o místico islâmico do século XII, Ibn Arabi: ‘O ser humano universal, (isso é católico) leva nele a semente de todos os seres e é capaz de abarcar toda a verdade’.”[1]. Isso pede uma visão cultural aberta a todas as dimensões do humano. Assim explica Balducci: “Sem negar nada do que sou, intuo uma nova identidade de crente. O ser humano planetário é pós-cristão, no sentido de que ele não quer se dividir ou se distinguir do comum dos outros seres humanos (...). Na Bíblia, diversas vezes, um discípulo de Jesus afirma: “sou somente um ser humano”. (...) Esta é minha profissão de fé. Sou padre, mas não gosto de ser identificado como padre, nem como cristão. Sou apenas um simples ser humano”[2].

[1] - Cf. 3a parte, capítulo 13, pág  12.

[2] - ERNESTO BALDUCCI, L´Uomo Planetario, Brescia, Ed. Camunia, 1985, 1° ed., p. 189 (a história do navio), p. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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