Ontem, fiz o encontro com um grupo de cooperativas, grupos de solidariedade com o terceiro mundo e pessoas dedicadas ao mercado equo-solidário. A cidade se chama Finale Liguri, uma pequena cidade do litoral acima de Gênova e antes de Venti-miglia e já próxima do litoral da França. Às vezes, encontro mais abertura e entusiasmo nesses grupos de solidariedade aqui na Itália do que em nossos grupos no Brasil. Hoje, reparto com vocês o artigo que mandei aos jornais nessa semana:
Inteligência espiritual
Desde que Howard Gardner demonstrou que a inteligência humana é muito diversificada e fez o mapa das “múltiplas inteligências”, as pessoas descobriram a importância da “inteligência emocional”. Até hoje, o livro de Daniel Goleman faz sucesso em muitos países. O que talvez seja mais novo e agora nesse inicio de 2013 mereça especialmente nossa atenção é o que tem sido chamado, em muitos círculos, de inteligência espiritual, ou transcendente. O psiquiatra Robert Cloninger, estranho ao mundo religioso, prefere denomina-la: “capacidade de autotranscendência”. Victor Frankl, criador da logoterapia existencial, afirma que a autotranscendência dá ao ser humano a possibilidade de superar barreiras e a buscar o que está oculto para além dos limites do seu conhecimento. A autotranscendência pode levar a pessoa a superar a si mesma de forma inesperada e surpreendente. Isso foi demonstrado por prisioneiros de várias tradições espirituais e mesmo ateus, nos campos de concentração do nazismo e das ditaduras militares latino-americanas. Essa inteligência espiritual pode unir-se a uma dimensão de fé e de pertença religiosa, mas é um elemento antropológico. É a capacidade do ser humano ser livre e transcender os limites biológicos e intelectuais para viver uma relação de identidade profunda consigo mesmo, com o outro e com todo o cosmos. É a inteligência espiritual que nos faz viver o anseio por uma vida plena. A inteligência espiritual organiza as respostas possíveis sobre o sentido da vida e o mistério das coisas. Quando se supera o nível das aparências e se busca as raízes mais profundas tem inicio a vida espiritual inteligente. Ela leva a pessoa a se maravilhar e encontrar sentido nas coisas do dia a dia, a ser capaz de gratidão, a desenvolver a gentileza e a delicadeza com os outros e consigo.
Muitas pessoas e grupos organizam essa busca na convivência interior e comunitária com esse mistério último, presente misteriosamente no mais profundo do seu ser, no mais íntimo das outras pessoas e no coração do universo. Esse mistério de amor está em nós, como algo que, como disse Santo Agostinho, é mais íntimo a mim do que eu mesmo. As religiões o chamam de Deus. Está em cada um de nós, mas não é apenas uma dimensão do nosso próprio ser e de alguma forma nos transcende. Cada pessoa o encontra no outro e no amor solidário que nos compromete com a libertação integral de toda humanidade e de cada ser humano em sua integridade. Ao nos apoiar uns aos outros nesse caminho, descobrimos que a inteligência espiritual tem uma dimensão social e comunitária. Ela nos abre à fé e ao reconhecimento da presença de Deus. Jesus afirmou: “Onde duas ou três pessoas estão reunidas no meu nome, eu estou no meio delas” (Mt 18, 20).