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As bem-aventuranças do povo sofrido

As bem-aventuranças do povo em hora de opressão

 Nesse domingo, no Brasil, a Igreja Católica celebra a festa de Todos os Santos. É uma ação de graças pela Páscoa de Jesus que manifesta a força de sua ressurreição na comunhão dos santos e santas, ou seja, na comunhão que todas as pessoas do céu e da terra têm em Deus e de cuja energia nós todos/as recebemos graças e bênçãos. Nessa festa, o evangelho lido nas comunidades é o das bem-aventuranças (Mateus 5, 1 – 12). 

Bem-aventuranças é um termo que aparece de vez em quando nos salmos e nos livros proféticos do primeiro testamento. E Mateus inicia o discurso da montanha, pondo na boca de Jesus oito bem-aventuranças. Algumas traduções bíblicas simplesmente traduzem por Felizes – as pessoas pobres de coração, as pessoas humildes, as que choram e assim por diante. O padre Chouraqui que traduz muito literalmente o termo hebraico original dos profetas e o aramaico de Jesus prefere a expressão: “Para frente”.  No Nordeste, nos tempos em que fazíamos o Ofício Divino das Comunidades, Reginaldo Veloso traduziu as bem-aventuranças por Parabéns. De fato, o termo bem-aventuranças é muito rico e toda tradução contém um aspecto, mas não consegue expressar toda a riqueza do que diz o evangelho. 

Diferentemente de abençoado e também de feliz, bem-aventurado/a significa a pessoa que recebe de Deus o reconhecimento de sua honra e do sentido para a sua vida. As comunidades do evangelho ainda viviam em um mundo no qual as infelicidades da vida eram atribuídas ao fato de que Deus teria esquecido essas pessoas ou mesmo por alguma razão as condenado. O mundo as considerava malvistas e mal faladas. São essas pessoas que o evangelho proclama bem-aventuradas: as que assumem a pobreza como opção de vida, as que são pequenas, são humildes, trabalham pela paz, etc... 

Hoje no Brasil, o evangelho tem de confirmar essas bem-aventuranças, mas tem de traduzi-las para proclamar que Deus dá dignidade, força e sua bênçãos aos educadores e educadoras que não aceitam a farsa da Escola sem partido. Eu teria a tendência de dizer: independentemente se cometeram erros ou não, só pelo fato de serem objeto de tanto ódio e de uma rejeição tão violenta e injusta, os companheiros e companheiras do PT que ouvem tanta maldade e a quem, sem merecer, se atribuem todos os males do Brasil de hoje, são sim bem-aventurados e bem-aventuradas. Quem sofre uma prisão injusta e ilegal, como a cada dia, fica mais clara para o mundo inteiro que é o caso de Lula, mesmo se o acusam de tudo o que é mal, Jesus o proclama bem-aventurado. A ele e a todos os que no Brasil, (e não são poucos) sofrem prisão injusta e impossibilidade de se defender livremente. 

Mas, os outros grupos e partidos de esquerda não estão em situação melhor. São bem-aventurados e bem-aventuradas de Deus as pessoas que ousam se assumir como de esquerda (comunistas, segundo a propaganda da direita que quer ressuscitar a perseguição aos comunistas dos anos 60).

Bem-aventuradas as pessoas que, com coragem e veracidade, assumem serem homoafetivas e se veem ameaçadas em seu direito de serem o que são e como são. Bem-aventuradas as pessoas que sofrem por verem o povo ter votado contra si mesmo e continuam, assim mesmo, a consagrar suas vidas a esse povo que, algumas vezes, a Bíblia chamou de “povo de cabeça dura”, mas assim mesmo objeto do amor divino. 

Se tivéssemos lido a versão das bem-aventuranças em Lucas (cap 6), teríamos, além das bem-aventuranças as quatro categorias que de certa forma se tornam objeto da reprovação divina. “Ai de vocês....” 

Penso que no Brasil de hoje, essa denúncia de maldição cai sobre intelectuais que vendem sua inteligência para seduzir as pessoas para o projeto do mal, para pessoas das mais diversas religiões que dão de Deus um testemunho terrível de um Deus cruel, amigo dos que se consideram seus amigos e indiferente à sorte dos que não fazem parte dos seus bajuladores. As bem-aventuranças de Jesus revela que a aprovação divina não incide sobre os religiosos e sim sobre as categorias de pessoas que são objeto da predileção divina, não porque sejam bons ou mais virtuosos do que os outros, mas porque Deus é Deus e sendo Deus os privilegia com seu amor materno.

É a proposta das bem-aventuranças que, na história, gerou a vocação das pessoas consagradas. Ela ressoa até hoje para nós. E pede de nós a alegria de vivermos esse caminho que Jesus abre e realiza em nós e para nós. Até hoje, a comunidade de Taizé tem uma oração muito repetida na prece do meio dia que diz: Guarda-nos, Senhor, na alegria, na simplicidade e na misericórdia, segundo o evangelho (das bem-aventuranças). Abençoa-nos nesse caminho..”

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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