Nesse domingo, em Roma, o papa
Francisco encerra uma Semana especial de comunhão e solidariedade com os
pobres para cumprir a proposta de, a cada ano, no domingo
anterior à festa de Cristo Rei, todas as comunidades católicas celebrarem
"o dia mundial dos pobres". Nesse ano, o tema escolhido para a
reflexão foi a palavra da carta de João: "Não amemos somente com
palavras...".
Mesmo dentro da Igreja, grupos
tradicionalistas acusam o papa de "pauperismo", uma preocupação
exagerada com os pobres que, em si, a Igreja sempre ajudou, mas não deveria
fazer disso seu único discurso. Mesmo consciente dessas críticas, o papa
Francisco se mantém fiel à sua opção profética de lembrar ao mundo que o único
caminho para a paz é a solidariedade e a superação do egoísmo e desumanidade de
uma sociedade dominante que só visa o lucro. Na sua carta sobre a alegria do evangelho,
ele escreveu: "Às vezes, sentimos a
tentação de ser cristãos mantendo uma distância prudente das chagas do Senhor.
Jesus quer que toquemos na miséria humana, na carne sofredora das pessoas. Ele
espera que renunciemos à tendência de ficar distantes dos dramas humanos.
Devemos nos manter ligados à vida dos outros. Assim, conheceremos a força da
ternura. Ao fazermos isso, a vida se complica, mas é maravilhoso e vivemos a
experiência de ser povo" (EG 270).
Aos cristãos que se perguntam se isso seria
missão de uma comunidade cristã, o papa responde: "A Igreja é a única sociedade que existe para aqueles que não fazem
parte dela". É o que ele chama de "Igreja em saída" (E G 24).
Nesses dias, o comitê internacional que
prepara o próximo Fórum Social Mundial confirma: A forma de organizar o mundo a
partir do Capitalismo e da competição está fracassando. A concentração da
riqueza nas mãos de apenas sessenta ricos do mundo, o desemprego estrutural
provocado por esse modelo de desenvolvimento e a destruição da Terra e da
natureza determinam um aumento da insegurança que toma conta das cidades. Isso
põe em risco o futuro do planeta e da vida sobre a terra.
No Brasil, o governo e o congresso nos fazem retroceder às leis existentes antes
da abolição da escravatura. Os meios de comunicação social repetem mentiras
sobre a necessidade da reforma da previdência. As privatizações a entrega das
riquezas nacionais nas mãos do Império e das empresas multinacionais se
multiplicam. Diante de tudo isso, os movimentos sociais e as comunidades de
base resistem insistindo: "Nenhum direito a menos".
Mesmo sendo vítimas de uma cada vez maior
escalada de violências, os povos indígenas propõem para toda a humanidade um
caminho novo: reorganizar as sociedades a partir do paradigma do Bem-viver. Nos
morros cariocas e nas periferias de nossas cidades, jovens formam grupos
musicais de reggae e hip-hop e criam um ambiente de solidariedade e uma cultura
de resistência. Mesmo em meio a riscos de vida e a um ambiente de muita
violência, esses grupos alternativos revelam que o amor é possível e, mesmo
depois de todos os perigos, as luzes se acendem na madrugada do mundo. Essas
pessoas e seus grupos escutam ainda hoje aquilo que, conforme o evangelho,
Jesus disse aos discípulos. Após lavar os seus pés, Jesus afirmou: "Vocês
serão felizes se fizerdes uns com os outros isso mesmo que eu fiz a vocês:
abaixar-se diante dos outros e os servir" (Cf. Jo 13, 17).