Nesses dias, pude ver o último filme do diretor francês Alain Resnais, o famoso diretor de "Hiroshima, meu amor`e "O ano passado em Mariembad", no começo dos anos 60. Nesse seu filme-testamento "Comer, beber e cantar", ele coloca na tela uma peça teatral de um conhecido dramaturgo inglês contemporâneo. Mas, a forma de filmar é impressionante. Três casais, atores de um teatro amador que ensaiam juntos uma peça ficam sabendo de que um amigo (George) tem uma doença mortal e já em estado final. Isso mexe com a vida deles todos e, pelo modo como o assunto é tratado, acaba interpelando a nossa. O filme fala o tempo todo no tal George que, em nenhum momento, aparece. O cenário é de teatro e Resnais o faz substituindo as paredes das casas por papel. Eles entram e saem por portas de papel, como se fossem cortinas. Tudo para mostrar certa inconsistência da vida e mesmo das relações. Por todo o tempo, os casais se perguntam: continuarão juntos, se separarão? Ao mesmo tempo, o filme mantém sua leveza e sua delicadeza em tratar os assuntos. Vale a pena quem puder vê-lo, já que está entrando.