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Comentário de filme, sexta feira, 03 de agosto 2012

A dançarina e o ladrão

Está ainda no circuito brasileiro de filmes de arte ou cinemas alternativos o filme chileno "A dançarina e o ladrão" de Fernando Trueba. Como no Brasil, temos pouco acesso ao cinema latino-americano dos países vizinhos ao nosso, embora sempre tenha escutado falar desse diretor, nunca vi nenhum outro filme dele. Na época do Pinochet, teve de fugir do país para não ser morto e fez vários dos seus filmes na Espanha. Esse ele fez em Santiago e a partir do livro de António Skármeta que conhecemos do belo "O carteiro e o poeta" que foi filmado por um cineasta inglês com atores europeus. O filme atual se chama em espanhol: "El baile de la Victoria". É claro que a atração principal do filme é o ator argentino Ricardo Darín, atualmente talvez o mais famoso ator latino-americano ou ao menos o que tem mais fama. De fato, ele é genial. Mas, não basta um excelente ator para termos um bom filme. E esse é verdadeiramente uma lição de cinema. A história é simples. Depois da ditadura do Pinochet, o governo do Chile dá uma anistia aos presos que cumpriram ao menos metade de sua pena e tiveram bom comportamento. E assim saíram da prisão um famosíssimo ladrão, perfeito arrombador de cofres e, ao mesmo tempo, um jovem que foi preso acusado de ter roubado um cavalo. 

Cada um tenta voltar à vida normal. O rapaz tenta convencer o "mestre" a roubar um cofre onde está depositado dinheiro ilícito da ditadura. E o ladrão experiente se considera aposentado e não quer mais entrar em roubo. Por outro lado, por acaso, Angel (o jovem) conhece Vitória, uma jovem que por perder os pais assassinados pela ditadura, ficou muda e é uma excelente dançarina. O filme se faz das vidas desses personagens e de belíssimas vistas de Santiago e de uma visão quase mística da cordilheira. Ao olhar o amor com o qual o diretor trata a sua cidade e os picos gelados dos Andes, nos sentimos envolvidos quase em uma espécie de culto à natureza. 

O filme tem um ritmo poético e uma narrativa simples e quase triste. Penso que não haverá quem não se emocione ao ver algumas cenas desse filme. Ele toca ao coração. A história tem um que de irreal ou de surrealista, mas é tão bem contada que mesmo quem achar que, por alguns detalhes, não convence como história, perdoará o diretor e embarcará na fantasia e na identificação com os personagens. Se puderem ver, no Cinema ou em DVD, não percam! 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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