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Como falar bem de Deus

                           Quando conheço alguém, muitas vezes, o fato de termos amigos comuns e que algum amigo me diz que aquela pessoa é alguém excelente e com quem vale a pena  aprofundar o diálogo e o conhecimento me leva a querer ser amigo e me aproximar mais do outro. Por isso, no plano da fé, sempre me preocupo em me perguntar que imagem passo aos outros sobre o Deus no qual acredito. Sempre me impressionou a afirmação do cineasta Woody Allen que dizia: “Deus deve ser um cara bom, mas os amigos dele, eu não recomendaria”.

                      De fato, como se poderia pensar bem de Deus nos tempos em que a chamada Santa Inquisição queimava hereges e bruxas nas fogueiras e legitimava guerras contra povos infiéis? Não sou dessa época, mas quando era criança ou mesmo jovem, as Igrejas e religiões davam a impressão de que Deus estava sempre contra qualquer mudança social e tanto no plano social e político, como no plano ético e moral sempre estava do lado dos mais conservadores e mais elitistas. Não era fácil compreender que qualquer movimento transformador ou revolucionário fosse por natureza anti-religioso e a espiritualidade fosse sempre vista como alienação.

Ao menos na América Latina, desde os anos 60, muitos cristãos e com eles padres e pastores se colocaram em uma posição crítica em relação à sociedade dominante e por causa de sua fé, isso é, em nome de Deus. Até hoje, muitos movimentos dentro das Igrejas não compreendem isso e continuam associando comunismo, ecumenismo e ateísmo como se fossem um só e único movimento. Ainda há poucos dias, apareceu na internet a carta de um grupo dito católico dirigido ao presidente da CNBB pedindo intervenção na Pastoral da Juventude, acusando a coordenação atual de ecumenismo e comunismo que para esse grupo deveria ser mais ou menos a mesma coisa. 

O que nesses últimos anos, no Brasil, me tem mais assustado não é a escalada da direita política e a imensa alienação patrocinada pelos grandes meios de comunicação coloniais, capitaneados pela Rede Globo. Isso seria de se esperar já que se tratam de empresas com interesses imensos no mercado. A dominação cultural é o melhor modo de lhes garantir a dominação política e econômica. O que me espanta mais é que as Igrejas continuem indiferentes a isso, entorpecidas por seu modo reduzido de interpretar a fé e presas a seus tiques e ritos religiosos. Acho uma traição ao evangelho de Jesus a legitimação religiosa  de um poder monárquico que vem do tempo em que os reis eram coroados em nome de Deus. E essa idolatria do poder clerical é por natureza anti-ecumênica e contra o diálogo. Nesses dias, o papa Francisco declarou que o clericalismo tem como oposto o próximo. E é isso mesmo. Dentro dessa cultura, parece quase normal que as religiões se vejam como concorrentes e que os cultos afrodescendentes continuem discriminados e mesmo perseguidos. 

Antigamente quem perseguia os crentes eram os Estados ateus e suas instituições. Hoje os cultos afro são perseguidos por grupos cristãos e que se dizem agir em nome de Deus.  De um Deus cruel e racista contrário ao que Jesus revelou no evangelho que faz chover sobre os maus e sobre os bons e faz nascer o sol sobre todos (Mt 5). Agradeço ao Candomblé e aos cultos afro o muito que aprendi com eles sobre espiritualidade ecológica e dou graças a Deus pela profecia que esses cultos significam por representarem a resistência cultural e a dignidade do povo negro, ao qual esses cultos ajudaram a superar a crueldade impressionante da escravidão e da injustiça social da qual até hoje a maioria dos negros e negras brasileiros são vítimas. Estamos juntos e em nome de Jesus quero continuar a minha iniciação no Candomblé.... 

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Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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