Páscoa de luto
Depois de uma longa e fatigante viagem, estou de volta a Camaragibe, na chácara em que vivo com a família de Ricardo e Malu que cada vez mais é minha família. Cheguei aqui e caí direto no choque que está sendo para todos a morte (por acidente de carro) de Graça, mãe de Renata, esposa do meu sobrinho Filipe. Uma coisa diante da qual não temos o que dizer nem fazer. É viver a solidariedade de irmãos e sofrer juntos. Ainda bem que ninguém aqui vai na direção de dizer "foi a vontade de Deus" ou coisas do gênero. Tenho a impressão de que ao menos nesse grupo se superou essa mania de culpar Deus de coisas que ele nem fica sabendo direito que acontecem e é mais vítima e sofre mais com isso do que todos nós. Ou eu vou culpar Deus por uma sociedade perversa e leviana para a qual a vida humana vale cada vez menos e a ilusão do poder da velocidade substitui cada vez mais o cuidado com o outro e a gratuidade da vida?
Ao conviver com essa família ou ao menos com algumas pessoas da família dela, percebo que sem ser pessoas ligadas à religião, têm uma perspectiva de vida muito mais humana e profunda, equilibrada e até eu diria espiritual do que às vezes percebo em muitas que se dizem religiosas. De todos os modos, essa Páscoa veio como uma experiência de muita dor, mas também de muita união.