Amanheci sob uma gripe pesada, coriza e dor de cabeça. Mesmo assim decidi ir à Sé de Olinda para a celebração que dava início ao processo de canonização de Dom Helder Camara. A partir de hoje, para a Igreja Católica, ele já é chamado "servo de Deus". É a primeira etapa do processo que culminará na beatificação e depois na canonização.
Gostei de reencontrar Dom José Maria Pires. Aos 96 anos, ele veio de Belo Horizonte para pregar nessa missa. E fez uma homilia simples, partindo do Concílio Vaticano II, da noção que toda Igreja e, portanto, todos nós, recebemos e vivemos a vocação universal à santidade. E a partir dessa vocação, ele mostrou como Dom Helder viveu esse caminho de santidade na opção de Igreja que foi a do Concílio a qual ele foi profundamente fiel. A Catedral estava mais do que cheia de gente e muitas vezes o povo aplaudia mostrando sua alegria pelo reconhecimento da profecia do Dom.
Na hora em que no final da missa, todos oraram juntos a nova oração pela causa da beatificação. Nessa oração, há uma pausa silenciosa, na qual cada pessoa diz em silêncio a Deus o seu pedido por intercessão do novo Servo de Deus. Eu confesso que naquela pausa pedi a Deus por intercessão de Dom Helder que ajudasse a nossa Igreja a voltar ao espírito de simplicidade evangélica pela qual Dom Helder tanto lutou e trabalhou. E bispos e padres e também clérigos e leigos convertam o seu gosto artístico e seu modo de pensar as celebrações. Ou será que teremos mesmo de continuar dando ao mundo uma impressão de museu arqueológico de liturgia que fala coisas de hoje com sinais da Idade Média e gestos de cortes monárquicas dos séculos medievais??? Será que algum dia, o espírito do Dom será acolhido e a proposta do papa Francisco será levada a sério???