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Conversa, domingo, 19 de outubro 2014

Pinerolo é uma cidade de uns 30 mil habitantes, como tantas do interior do Brasil. Fica no norte da Itália, já olhando os Alpes que, nessa região, dividem a Itália (do lado de cá) e a França (do lado de lá). Mais ou menos perto do famoso Monte Branco. Pinerolo tem um centro de dois ou três séculos e alguns bairros feitos recentemente. Aqui em uma paróquia do centro tem um padre que todo ano vai passar um mês no sertão da Bahia - Cícero Dantas - uma região paupérrima, quente e seca - vai com um grupo de jovens para fazer voluntariado e servir ao pessoal do lugar.

Aqui com um grupo bíblico que tem gente de 70 e tem jovens (uns cinco ou seis) na casa dos 20, estou concluindo um comentário ao evangelho de Marcos em forma de diálogo. Muito enriquecedor para mim que sempre aprendo muito das questões que eles colocam.

Na sexta feira, ante-ontem, como tinha contado aqui visitei e almocei em uma comunidade muito diferente das que conhecia até aqui. Chegamos (eu e Antonio Vermigli) em um prédio de periferia de cidade. Um lugar chamado Fidenza, perto de Parma.

Um prédio de apartamentos de quatro andares e longo. Moderno, de bom gosto, todos os apartamentos de terraço e dando para o sul de onde vem o sol da manhã e o vento.

Ali fomos recebidos por um senhor (Mauro) que nos contou: "Aqui vivem 15 famílias que, desde uns 12 anos, decidiram viver em comunidade. Compraram o terreno juntos e juntos construíram os apartamentos. Todos têm a mesma configuração e todos dão para o terraço que é uma área comum. Embaixo (no piso térreo) ficam a sala comum de refeições, cozinha, depósito, dispensa, sala de eletricidade, uma central de eletricidade. Têm energia solar e aquecimento de água sem pagar nada. Eletricidade praticamente gratuita, etc... Das 15 famílias, cinco escolheram ter toda a economia em comum (menos propriedade de imóveis por respeito aos filhos e questões de herança). Mas, o que ganham em salário põem em comum e é administrado por uma pessoa de fora. E cada um pega da caixa comum o que precisa. Só se o gasto exceder a certa soma (por exemplo, alguém quer comprar um carro) aí precisa ver se a caixa tem dinheiro e se todos autorizam. Mas, para os gastos simples do mês, são livres".

Perguntei: - E a motivação que levou vocês a isso foi ou é religiosa?

Ele: - Não. A comunidade é totalmente leiga. Alguns vêm de tradição cristã e de fato a fé nos ajudou a optar por isso. Mas, de nossa parte. Outros vêm de opção social e política. A comunidade não é de caráter religioso e nem se fala nisso... 

- E os filhos de cada família, entram nessa opção dos pais?

Ele: É livre. Alguns sim. Outros não. Quando crianças são criados juntos e isso de todo modo é bom e positivo e educa muito. Quando crescem, têm toda liberdade de cada um tomar o seu rumo.

- E como administram as diferenças e conflitos que aparecem?

Ele: Temos uma reunião semanal das cinco famílias que põem tudo em comum e temos um facilitador que não é chefe nem coordenador, nem manda em nada, mas é encarregado de nos ajudar nas relações, no diálogo que é sempre um desafio... E temos também a assembleia de todos - das 15 famílias - agora 13 - que também tem alguém para ajudar na coordenação. Normalmente, não há problemas. As vantagens e ganhos são imensamente maiores do que as dificuldades.

De fato, ele nos mostrou todas as coisas comuns e fomos para o almoço comum embaixo - no piso térreo. Havia umas 30 pessoas, com alguns adolescentes e duas ou três crianças. O ambiente me pareceu o melhor possível.

Nunca tinha conhecido uma experiência assim. Como sempre conheci comunidades religiosas e essas estão em crise grave, fiquei impressionado de conhecer uma não religiosa, livre e feliz. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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