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​Conversa, domingo, 24 de fevereiro 2013

Estou agora na hora de ir para o aeroporto do Recife onde embarco para Havana, Cuba. Será uma semana cheia. Encontro de teologia sobre pluralismo religioso e diálogo entre as religiões, especialmente com as religiões afro-cubanas (Santeria, como o Candomblé aqui). Além disso, assessoria no Centro ecumênico Martin Luther King sobre espiritualidade do compromisso e mística revolucionária. Além disso, um contato com o ministério do governo cubano encarregado da relação com as religiões (Há muitos anos conheço a ministra Caridad Diego) e uma visita de solidariedade ao presidente Hugo Chávez na embaixada da Venezuela (ele voltou a Caracas e não está bem). 

Cuba sempre suscita em mim sentimentos incríveis. Quando chego lá e vejo o cartaz imenso na estrada que sai do aeroporto: "Benvindo ao primeiro território livre das Américas", me sinto emocionado porque, mesmo se constato que isso é um caminho nunca concluído e sempre ha problemas pela frente, pelo menos é certo que governo e povo querem isso. Nem sempre é assim em nosso país, onde às vezes parece que há grupos que preferem mesmo viver sempre dependentes e colonizados. Adoram o império, como o Apocalipse na Bíblia fala dos adoradores da besta. Cuba pelo menos revela essa vocação à liberdade, embora com tantas lutas. Um povo que atacado e agredido durante mais de 50 anos pelo império americano e resistiu até aqui já é uma maravilha. Ao me encontrar com nossos irmãos de Cuba, sinto, de um lado, um desejo imenso de que toda a América Latina pudesse viver uma sociedade mais igualitária e justa como vejo em Cuba, principalmente, todo mundo tendo saúde e educação gratuitas e de boa qualidade. Do outro, é claro que espero que o tipo de socialismo evolua para formas mais democráticas e populares. Em Cuba ha uma democracia de base e até mais participativa do que aqui. O povo elege vereadores, prefeitos, deputados, governadores, tudo, mas a eleição para o governo federal (presidente) é feita de forma indireta. É eleito, mas pelo congresso eleito pelo povo. Não defendo o fato de alguém ficar no poder tantos anos, mas nego que seja ditadura... Eu vivi em um tempo de ditadura e me lembro como era. Em Cuba ninguém corre perigo de ser preso na rua por crime de opinião ou simplesmente desaparecer. 

Para mim, ditadura verdadeira é o império norte-americano que tem eleições, mas manipuladas pelo dinheiro e submissa ao grande capital. De todo modo, trabalho e sonho com o bolivarianismo, novo tipo de socialismo democrático e participativo latino=americano. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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