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Conversa inicial, 20 de setembro de 2011

O caminho da Igreja

Hoje comecei a semana de giro pelo centro-norte da Itália. O amigo e companheiro de lutas Antonio Vermigli me conduz de carro. Saímos de Verona e chegamos a Bolonha duas horas depois. Bolonha é uma cidade grande e foi um centro importante na Idade Média. Tem uma das primeiras universidades do mundo ocidental (junto com a de Paris). Atualmente, vive os problemas de toda cidade grande do mundo (trânsito complicado, ar poluído, etc). Mas tem o centro histórico preservado e belo. E é uma cidade que respira cultura clássica. 

Fui convidado para falar em uma comunidade de periferia. (Periferia aqui não quer dizer pobre, como é o caso do Brasil), mas as quase cem pessoas que vieram eram pessoas engajadas em movimentos sociais e na busca de um mundo mais justo. O tema que me pediram para falar foi “Para onde vai a Igreja? Caminhos e perspectivas. Se esperavam que eu centrasse a minha palavra em crítica ao Vaticano, se decepcionaram. Para mim, Igrejas (no plural) são as comunidades concretas e não uma espécie de multinacional da fé com sede em Roma ou em Genebra (Conselho Mundial das Igrejas) ou em Canterbery (Igreja Anglicana) ou em outro lugar do mundo. Cada comunidade local é uma Igreja por inteiro, em comunhão com as outras e como católico reconheço a Igreja de Roma como a primeira e a que preside a unidade de todas (a Igreja de Roma e não só o papa). Então, falei das comunidades, contei como a caminhada da Igreja continua no mundo dos pobres e como eu julgo que hoje os leigos e leigas (palavra inadequada e imprópria para os fiéis) salvam a Igreja por sua maturidade de fé e seu compromisso, em tempos nos quais o clero está em crise e a hierarquia parece meio sem perspectivas. Mesmo com notícias de escândalos no clero e com essa dificuldade da cúpula da Igreja se colocar em diálogo verdadeiramente aberto e fraterno com a humanidade, as comunidades perseveram na fé e fazem tantas coisas boas e importantes. Mesmo aqui na Itália independentemente de saber que cardeais estão ligados a Berlusconi e alguns mesmo a escândalos econômicos, o povo de Deus continua firme e maduro no seu caminho. Animei as pessoas a ter confiança no futuro. Houve muitas perguntas pertinentes e a expressão de muito sofrimento com a realidade atual de uma cúpula eclesiástica que se nega a dialogar com a humanidade e mesmo ouvir os outros membros da Igreja. Quantos bispos teriam coisas a dizer importantes de suas dioceses, Quantos padres mereceriam ser escutados. Nada. A imprensa diz: A Igreja pensa isso, a Igreja falou aquilo... Que Igreja? Mesmo considerando a realidade só católica, a maioria dos católicos não foi escutada. Muitas vezes, um só homem isolado e movido pelo medo se considera a Igreja e diz o que toda Igreja pensa. De fato, a Igreja é muito mais plural e diversificada. Graças a Deus.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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