Somos minoria, mas profética
Há dois dias, comentei minha crise pessoal quando vejo certo modelo de Igreja hoje vigente e dominante. Hoje, fui convidado para uma celebração em João Pessoa, com Dom José Maria Pires (93 anos) e um grupo de agentes de pastoral e pessoas de base que trabalhavam na pastoral popular na época em que ele era o arcebispo de lá. Cheguei na hora da celebração. Éramos umas vinte pessoas. Quase todas conhecidas. A celebração despojada e simples, de fato, expressão da vida daquelas pessoas, de nossa amizade profunda e da gratidão que todos têm por Dom José. Um senhor me disse: "A última vez que lhe vi foi você junto com Dom José Maria celebrando uma missa em uma mesinha improvisada, diante de uma área ocupada por posseiros cercados por pistoleiros armados que ameaçavam a vocês e ao grupo. Depois da celebração, uma senhora me disse: eu era uma das pessoas presas pelos pistoleiros. Senti uma alegria e uma segurança imensa quando vi vocês chegarem, não podiam ultrapassar a porteira da fazenda porque os pistoleiros armados não permitiram. Vocês colocaram uma mesa bem na frente da porteira e assim celebramos, vocês do lado de lá e nós do lado de cá. Nunca mais pensava que iria encontrar você. Bendito seja Deus.
Dom José Maria celebrou e alguém disse: Saímos daqui assumindo o fato de sermos minoria na Igreja de hoje, mas minoria profética (Dom Hélder Câmara chamava: minoria abraâmica, isto é, minoria que como Abraão espera contra toda a esperança e mesmo em sua velhice e aparente fragilidade gera uma vida nova e que cria descendência. Hoje, devemos ser uma minoria que recorda a todos da Igreja essa missão de servir concretamente ao povo e de forma gratuita e revolucionária. Voltei animado e renovado na disposição de continuar essa luta.