Experiências celebrativas
Estou passando em São Paulo, a caminho do aeroporto, onde embarcarei para uma semana na Itália para trabalhar em um livro novo com uma teóloga italiana. A saúde não está muito bem, mas não vou me cansar nem viajar tanto lá dentro do país. Em São Paulo, tenho algumas amigas muito queridas e amigos, mas não pude vê-las dessa vez, até porque essa vinda uma tarde antes do embarque foi meio de repente. Fiquei na casa de meu irmão Marcílio. Logo que cheguei, ele me disse que Dona Irani é uma senhora amiga, membro de uma comunidade eclesial de base e atuante em uma paróquia da periferia. Ela e algumas pessoas de comunidades de base e pastoral da juventude queriam muito me ver, mesmo que fosse apenas para uma saudação rápida. Decidi ir na casa dela e ali me encontrei com esse grupo de irmãos e irmãs, quase todos jovens. Partilhamos a caminhada das CEBs, a nossa esperança e eu agradeci a Deus pela resistência profética deles em condições sempre muito exigentes.
Além disso, tive outra experiência marcante. Junto com Marcílio e Filipe, meu sobrinho, fui a um teatro ver a nova versão do musical Hair que assisti em São Paulo em 1969. Apesar do tema muito datado (a revolução dos hippies e o protesto contra a guerra do Vietnan), questões como a dificuldade de diálogo entre as gerações e a denúncia do militarismo que toma conta do mundo continuam atuais. As músicas (Aquarius, Hare Krishna, Bom dia, estrela e outras) são belíssimas e os atores e cantores são excelentes. Quando voltei, uma pessoa me perguntou: Por que você foi ver uma peça na qual de repente homens e mulheres ficam nus? Respondi: Você se lembra na vida de São Francisco de quando o pai dele o quer obrigar a ser comerciante? O que ele faz? Despe todas as roupas e sai nu e livre para viver uma vocação nova. Nessa peça é exatamente isso que acontece. Os jovens queimam o atestado de convocação para o serviço militar. Sabem que serão presos por isso e cantam, então, "Para onde vou?" e aí sim tiram as roupas como sinal de despojamento desse tipo de vida social a qual eram obrigados. Achei a peça inteira uma grande celebração da liberdade e da busca pela paz. No final, junto com muitas outras pessoas, subi ao palco e dancei e cantei com os atores.